Durante o último dia do ACP Internal Medicine Meeting 2025, uma palestra foi ministrada pelo Dr. Aditya Bharadwaj, professor de Cardiologia da Universidade de Loma. A palestra foi baseada no último guideline da AHA/ACC, publicado no início de 2025.
Para relembrar: todo paciente com suspeita de síndrome coronariana aguda deve realizar um eletrocardiograma em dez minutos, assim como coleta de troponina. Se infarto com supraST, o paciente deve ser encaminhado imediatamente para angioplastia ou trombólise.
Se infarto sem supraST ou angina instável, devemos estratificar o risco do paciente em baixo, intermediário, alto risco para definir o grau de urgência da estratificação. Para isso, o escore mais utilizado é o de Grace.
Todos os pacientes devem receber dose de ataque e manutenção de AAS.
Inibidor de P2YP2:
– Pacientes submetidos à angioplastia: AAS + ticagrelor ou prasugrel (classe 1).
– Pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio em contexto de SCA: Continuar AAS e iniciar ticagrelor ou clopidogrel assim que possível no pós-operatório.
– Pacientes mantidos em tratamento clínico: AAS + ticagrelor (classe 1). Clopidogrel como segunda opção.
– Pacientes submetidos à trombólise: AAS + clopidogrel (classe 1). Pode-se optar pela trocar do P2Y12 posteriormente se realizada angioplastia.
Em relação à suspensão em caso de necessidade de cirurgia de revascularização:
– Clopidogrel: cinco dias antes.
– Prasugrel: sete dias antes.
– Ticagrelor: três a cinco dias antes.
Sobre inibidor de P2Y12 intravenoso (cangrelor): Pode ser considerado em pacientes que vão para angioplastia e não receberam um inibidor P2Y12 (classe 2b). Essa medicação não está disponível no Brasil.
Anticoagulação parenteral
– Em pacientes com SCASSST, preferir heparina não fracionada para reduzir risco de eventos isquêmicos (classe 1).
– Em pacientes com SCASSST em que não há previsão de estratificação invasiva, pode-se usar enoxaparina ou fondaparinux (classe 1).
Terapia hipolipemiante
– Pacientes sem uso prévio de estatina: Iniciar estatina de alta potência (classe I). Pode considerar já adicionar ezetimibe (classe 2b). Checar lipidograma em 4-8 semanas.
– Pacientes já em uso de dose máxima de estatina e com LDL >55mg/dL: adicionar terapia não-estatina (como ezetimibe, ácido bempedoico, inibidor de PCSK9).
Relembrando: estatinas de alta potência > Atorvastatina 40-80mg ou rosuvastatina20-40mg (expectativa de redução >50% LDL).
Betabloqueadores
A diretriz ainda coloca (mesmo após os resultados do estudo REDUCE-AMI) como classe 1 para todos os pacientes com SCA início em até 24h do evento para reduzir risco de reinfarto e arritmias ventriculares.
Inibidores do sistema renina angiotensina
Classe 1 de recomendação em pacientes de alto risco (FEVE <40%, hipertensão, diabetes ou infarto anterior para reduzir morte por todas as causas e eventos cardiovasculares maiores.
Angioplastia primária no IAMCST
– Pacientes com menos de 12 horas de dor devem ser submetidos à angioplastia em até 90 minutos ou em até 120 minutos se o paciente precisar ser transferido para outro serviço (classe 1).
– Classe 1 de recomendação também em pacientes com choque cardiogênico pós IAM, independentemente do tempo de início dos sintomas.
– Classe 3, ou seja, sem benefício em pacientes com >24h do início da dor e sem evidência de isquemia ativa, insuficiência cardíaca aguda ou arritmias graves.
Manejo SCASSST
– Choque cardiogênico, insuficiência cardíaca nova/em piora, angina refratária, arritmias graves: Cateterismo em até 2 horas.
– Alto risco (GRACE >140, troponina em ascensão, alterações dinâmicas de segmento ST): Cateterismo em até 24h.
– Risco intermediário (GRACE 109-140, sem recorrência de sintomas, troponina estável): Cateterismo em até 72h.
– Baixo risco (Grace <109, sem sintomas, angina instável, ECG sem alterações dinâmicas): Cateterismo ou estratégia invasiva seletiva (ex angioTC coronárias).
Choque cardiogênico
– Em pacientes com IAMCST e choque cardiogênico refratário, o uso de um dispositivo de bomba microaxial (ex Impella) é razoável para redução de morte (classe 2A após publicação do estudo Danger Shock).
Reabilitação cardíaca
– Todos os pacientes pós SCA devem ser encaminhados para reabilitação cardíaca.
Tempo de dupla antiagregação pós SCA
– Estratégia padrão ainda é a de manter dupla antiagregação por 12 meses.
– Se necessárias estratégias para redução de sangramento, pode-se considerar descontinuar AAS após 1-3 meses e manter apenas ticagrelor (classe 1).
– Se alto risco de sangramento, pode-se considerar suspender AAS/inibidor de P2Y12 após um mês e manter a monoterapia (classe 2b).
Mensagens finais
- Ticagrelor ou Prasugrel são preferidos em relação ao Clopidogrel em pacientes com síndrome coronariana aguda submetidos à angioplastia.
• DAPT é recomendada por 12 meses como padrão para pacientes com SCA que realizaram PCI. Entretanto, em pacientes com alto risco de sangramento, estratégias para evitar sangramentos devem ser consideradas (ex: uso de inibidor de bomba de prótons para prevenção de sangramento gastrointestinal, monoterapia com Ticagrelor após UM mês, ou suspensão da aspirina em pacientes que necessitam de terapia tripla).
- Além da estatina de alta potência, terapias não-estatinas (ezetimiba, evolocumabe, alirocumabe, inclisirana, ácido bempedoico) devem ser consideradas para manter o LDL abaixo de 55 mg/dL.
- Recomendações procedimentais: acesso radial, uso de imagem intravascular em todos os casos de PCI em SCA, e bomba de fluxo microaxial para choque cardiogênico.
- Todos os pacientes com SCA devem ser encaminhados para programa de reabilitação cardíaca.
Baixo risco: Estratégia invasiva seletiva. Se teste não invasivo de alto risco ou sintomas recorrentes, encaminhar para cateterismo.
Autoria

Juliana Avelar
Médica formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Cardiologista pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
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