O desejo sexual hipoativo (DSH) é altamente prevalente, afetando mais da metade das mulheres na América Latina. Ele é caracterizado pela diminuição do desejo sexual, seja ele espontâneo ou reativo, associado a cronicidade e sofrimento clínico.
Em uma das mesas apresentadas no XVIII Congresso da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual (SLAMS 2025), a Dra. Lúcia Lara discutiu sobre os desafios da prescrição de testosterona (T) no manejo do DSH. Sabe-se que, na menopausa, há uma redução de até 55% nos níveis de testosterona total e até 77% na DHEAS em comparação ao período do menacme. Evidências sugerem uma possível associação positiva entre desejo e frequência sexual com os níveis de testosterona dessas mulheres (Maserei & Vignozzzi, 2022). A prescrição de testosterona está indicada no tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo (TDSH) em mulheres na pós-menopausa, seja clínica ou cirúrgica. Segundo Islam et al. (2019), a testosterona melhora o desejo sexual, inclusive de forma independente da associação com o estrogênio (E2), além de aumentar a frequência de eventos sexuais.
O objetivo da terapêutica é elevar os níveis séricos de testosterona para cerca de 300 ng/dL (Krapf & Simon, 2017, Menopause), ajustando-se a posologia de acordo com o veículo utilizado: absorção de 50–68% com Pentravan e de 9–14% com veículos alcoólicos. A Febrasgo recomenda a prescrição de 1 a 2 g de testosterona base em 1g de Pentravan, ou 3 a 5 mg por 1 g veículo alcoólico. A monitorização deve incluir dosagem basal, uma nova aferição após 4 semanas do início da terapia e, depois, a cada 3 meses (Vignozzi, 2022).
Em seguida, a Dra. Sandra Scalco apresentou outras abordagens terapêuticas, baseadas no modelo do ciclo de resposta sexual e em tratamentos farmacológicos além da testosterona. O ISSWSH (International Society for the Study of Women’s Sexual Health) recomenda uma abordagem centrada na pessoa, com identificação de fatores causais e promoção da educação em sexualidade. Intervenções diversas podem impactar positivamente a neuroplasticidade do desejo, incluindo a ressignificação do prazer e da resposta sexual, mudanças no estilo de vida, promoção do diálogo entre o casal e exercícios de focagem sensorial. É fundamental afastar fatores psicossociais, como distorções de autoimagem, depressão e histórico de violência.
Entre as opções terapêuticas, destacou-se a tibolona, com aumento de até 25% no desejo, além de medicações ainda não disponíveis no Brasil, como flibanserina e bremelanotida. A bupropiona também pode ser considerada, seja como antídoto para medicações que afetam negativamente o desejo, seja por substituição. Terapias vaginais podem reduzir a dor durante a relação, melhorando, secundariamente, o desejo sexual. A Dra. Scalco reforçou que há ausência de evidência científica de qualidade e segurança no uso de implantes hormonais com esse fim, mencionando o papel da farmacovigilância.
Veja também: Uma nova perspectiva para o tratamento da desordem do desejo sexual hipoativo
Fitoterapia no tratamento do DSH
A Dra. Fabiene Vale abordou a fitoterapia no tratamento do DSH. Uma revisão sistemática (Jurado et al., 2020) identificou efeitos positivos do uso de Tribulus terrestris (TT) no desejo sexual. Seu principal componente ativo, a protodioscina, estimula a liberação de LH na hipófise, aumentando os níveis de testosterona em mulheres no menacme e promovendo a conversão em DHT, além de elevar a produção de óxido nítrico (NO) no endotélio. Em mulheres na pós-menopausa, ensaios clínicos randomizados (de Souza, 2016; Vale, 2018) identificaram melhora no desejo, excitação, orgasmo e lubrificação. A posologia sugerida é de 280 mg de Tribulus terrestris por noite (contendo 112 mg de protodioscina), após o jantar, visando melhor absorção linfática.
Novas medicações antiobesogênicas e o desejo sexual
Por fim, a Profa. Carmita Abdo discutiu o impacto das novas medicações antiobesogênicas sobre o desejo sexual. A obesidade ainda carrega estigma e preconceito no Brasil, e sua prevalência vem crescendo. Estudos mostram que cerca de 80% dos genes relacionados ao ganho de peso atuam no cérebro, o que explica a tendência do corpo em recuperar o peso perdido. Segundo Saadedine et al. (2024), embora a relação entre obesidade e disfunção sexual feminina (DSF) seja controversa, a perda de peso está associada à melhora da função sexual em mulheres obesas. Agonistas do receptor GLP-1 promovem saciedade e estimulam a produção de insulina; entretanto, seus efeitos sobre o desejo sexual ainda são incertos. Dados mais consistentes vêm de estudos em animais, que sugerem um mecanismo relacionado ao excesso de serotonina, o que justificaria, por plausibilidade biológica, impactos sobre o desejo. A professora concluiu que a obesidade está associada a alterações metabólicas, e que a perda de peso e a melhora da autoimagem podem favorecer a produção hormonal e a sensibilidade à insulina, fatores esses que impactam positivamente a libido. Por outro lado, os efeitos adversos gastrointestinais, o mal-estar e o estresse envolvidos no tratamento da obesidade podem prejudicar a resposta sexual.
Sobre o SLAMS 2025
O XVIII Congresso da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual (SLAMS 2025) ocorre entre os dias 7 e 9 de agosto/2025, em São Paulo/SP. O evento apresenta um programa científico intenso, interessante e atual que propõe discussões sobre disfunção sexual, tratamento cirúrgico de doenças sexuais, identidade de gênero e orientação sexual, saúde psicossexual e questões globais de saúde relacionadas à sexualidade humana.
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