Durante o “Testo 2025 – Evento sobre Testosterona“, que aconteceu em 23 de agosto no Centro de Convenções Rebouças, especialistas se reuniram em uma mesa dedicada à discussão da terapia hormonal de afirmação de gênero em homens trans. O encontro reuniu médicos e profissionais de saúde que compartilharam experiências, evidências científicas e desafios relacionados ao cuidado dessa população.
A mesa foi aberta pelo Dr. Edson Ferreira Filho, médico assistente da Divisão de Ginecologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP). O especialista apresentou conceitos fundamentais sobre identidade de gênero, orientação sexual e expressão de gênero, ressaltando a importância da capacitação dos profissionais para oferecer um atendimento humanizado e acolhedor. Edson destacou ainda que a saúde integral das pessoas trans deve ir além da hormonização, incluindo contracepção e rastreamentos específicos.
Efeitos da terapia hormonal
Na sequência, a Profa. Elaine Frade Costa, doutora e livre-docente em Endocrinologia pela FMUSP, abordou o panorama atual da hormonização cruzada no Brasil. Ela explicou que, com a vigência da resolução do Conselho Federal de Medicina de 2019, é autorizada a prescrição para pessoas maiores de 16 anos com diagnóstico de incongruência de gênero e capacidade de consentimento.
A professora detalhou os diferentes tipos de formulações de testosterona disponíveis (undecilato, cipionato e gel) destacando riscos, benefícios e a necessidade de monitoramento próximo, sobretudo no primeiro ano de tratamento. Reforçou, também, que, quando administradas em doses fisiológicas e com acompanhamento adequado, as complicações são raras.
O Dr. Sérgio Okano, médico assistente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e vice-coordenador do Departamento de Diversidade Sexual da Abemss, apresentou dados sobre os efeitos da testosterona. Segundo ele, mesmo em doses menores, o hormônio garante a progressão das características masculinas e pode reduzir riscos em situações específicas, como a eritrocitose. O doutor citou meta-análises que demonstram queda nos níveis de HDL e aumento dos triglicérides em usuários de testosterona, além da elevação do risco de eritrocitose. O especialista também discutiu o impacto da terapia sobre fertilidade e rastreamento de câncer, destacando que a testosterona não aumenta o risco de câncer de mama, mas pode dificultar a coleta do exame de Papanicolau, o que reforça a importância da biologia molecular nesses casos.
Encerrando a mesa, Marlene Inácio, psicóloga clínica e hospitalar do serviço de Endocrinologia do HC-FMUSP, trouxe uma perspectiva histórica sobre a hormonização no Brasil. Ela enfatizou que a psicologia não deve se centrar na confirmação de diagnósticos de transgeneridade, mas sim em assegurar que os pacientes compreendam riscos e benefícios do tratamento, estejam em condições clínicas adequadas e contem com suporte multiprofissional durante toda a jornada.
A mesa reforçou a importância do diálogo entre diferentes especialidades e da atuação interdisciplinar para garantir segurança, eficácia e acolhimento no processo de afirmação de gênero. Ao reunir ginecologistas, endocrinologistas e psicólogos, o Congresso de Testo evidenciou que a terapia hormonal em homens trans deve ser pautada em ciência, cuidado integral e respeito à diversidade.
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