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Gastroenterologia8 outubro 2025

Gastroparesia: Novidades da Diretriz da AGA de 2025

A nova diretriz da AGA 2025 reforça o diagnóstico com teste funcional de 4h e atualiza recomendações dietéticas e farmacológicas na gastroparesia.
Por Leandro Lima

A Sociedade Americana de Gastroenterologia (AGA) atualizou, por meio da revisão sistemática pautada na estrutura GRADE, as suas diretrizes dedicadas à gastroparesia em outubro de 2025.

Os sintomas cardinais da gastroparesia incluem náuseas, vômitos, plenitude pós-prandial e saciedade precoce.

A despeito das manifestações clínicas características, ressalta-se que a gastroparesia é um diagnóstico de exclusão, sendo, por esse motivo, imprescindível a realização de endoscopia digestiva alta (EDA).

Os pontos de destaque da diretriz foram os seguintes:

 

 

 

 

Diagnóstico

●      O diagnóstico da gastroparesia deve ser confirmado com teste de esvaziamento gástrico (cintilografia ou teste respiratório com spirulina marcada com carbono-13) de 4 horas, por meio de mensuração real, e não estimativa matemática derivada de protocolos mais curtos, como os de 2 horas ou menos.

●      Os testes mais curtos possuem taxa de falsos-negativos de 12%. O teste funcional deve ser realizado na vigência de otimização do controle glicêmico e suspensão prévia de opióides e agonistas do receptor do GLP-1.

Dieta●      A dieta deve ser fracionada, com baixo teor de gordura e resíduos.
 

 

 

 

 

 

1ª linha

 

●      A metoclopramida segue como a única opção terapêutica aprovada pelo FDA, com dose pré-prandial inicial de 5 mg, podendo chegar a 10 mg até 3 vezes ao dia. A domperidona somente deve ser considerada na presença de efeitos adversos neurológicos (discinesia tardia, acatisia e depressão) com a metoclopramida, que são mais comuns em usuários de psicotrópicos e idosos. A eficácia terapêutica e tolerância devem ser avaliadas em 4-8 semanas.

●      A eritromicina, um agonista do receptor da motilina, pode ser utilizada em doses baixas: 40-150 mg, 30 minutos antes das refeições, até 3 vezes ao dia. A taquifilaxia, embora esperada, pode ser contornada com períodos de folga do medicamento (3 semanas sim, 1 semana não). Atenção especial deve ser dedicada à interação com fármacos que prolongam o intervalo QT.

  
 

 

 

 

 

 

2ª linha e adjuvantes

 

●      Os antieméticos (ondansetrona e proclorperazina) podem ser indicados para a redução de náuseas e vômitos, embora não afetem o esvaziamento gástrico.

●      A prucaloprida não é considerada tratamento de primeira linha, mas pode ser considerada quando há constipação idiopática crônica concomitante.

●      Os neuromoduladores, como nortriptilina e buspirona, somente devem ser considerados na presença de dor abdominal significativa (síndrome do intestino irritável ou dispepsia funcional concomitante) ou saciedade precoce/bloating, respectivamente.

●      O uso de canabidiol na gastroparesia se restringe aos ensaios clínicos, na esfera investigativa, e pode inclusive agravar o quadro em função de hiperêmese canabinoide. Um único RCT de 2023, com apenas 44 pacientes, demonstrou a eficácia na gastroparesia diabética e idiopática, valendo-se do epidiolex, uma formulação altamente purificada e que não tem aprovação por nenhuma agência regulatória para esse propósito.

 

 

 

Casos refratários

●      Os pacientes com gastroparesia refratária, ditada pela falha com pelo menos 2 tratamentos clínicos, podem ser selecionados criteriosamente para G-POEM (miotomia endoscópica peroral gástrica, se retenção gástrica >20% em 4 horas e sintomas moderados por 6-12 meses) e estimulação elétrica gástrica.

●      A injeção pilórica de toxina botulínica não deve ser empregada de forma rotineira na gastroparesia refratária, pois demanda retratamento trimestral e impõe risco de cicatrização que pode complicar intervenções futuras.

Conclusão e Mensagens práticas

  • A gastroparesia se expressa por síndrome de mau esvaziamento gástrico e é um diagnóstico de exclusão, sendo fundamental a endoscopia digestiva alta.
  • A confirmação diagnóstica está atrelada às provas funcionais, como cintilografia ou teste respiratório de esvaziamento gástrico, sendo padronizado o tempo de avaliação de 4 horas, e desencorajados protocolos mais curtos.
  • A primeira linha terapêutica é a metoclopramida, sendo a bromoprida reservada para a intolerância.
  • Tratamentos adjuvantes podem ser empregados com base nas comorbidades associadas: constipação intestinal idiopática (prucaloprida), síndrome do intestino irritável (nortriptilina) e bloating (buspirona).
  • Os casos refratários podem ser selecionados criteriosamente para G-POEM ou estimulação elétrica gástrica.
  • Há recomendação contrária ao uso de canabidiol e aplicação de toxina botulínica pilórica.

Autoria

Foto de Leandro Lima

Leandro Lima

Editor de Clínica Médica da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica (2016) e Gastroenterologia (2018) pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) ⦁ Residência em Endoscopia digestiva pelo HU-UFJF (2019) ⦁ Preceptor do Serviço de Medicina Interna do HU-UFJF (2019) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

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