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Ginecologia e Obstetrícia29 outubro 2024

Desafios no tratamento da insônia ocasional: caso clínico

Por Lara Hannud

Paciente do sexo feminino, 47 anos, apresenta-se em consulta, com queixa de dificuldade para dormir nas três últimas semanas. Os sintomas ocorreram de duas a três vezes por semana durante esse período Relata dificuldade para adormecer, com despertares frequentes durante a noite, resultando em cansaço, diminuição da atenção e aumento da irritabilidade durante o dia.

Os problemas de sono começaram após a paciente ter sido promovida no trabalho, passando a chefiar um novo projeto. Esse aumento de responsabilidade resultou em maior estresse e cobrança. Antes da promoção, a paciente tinha um padrão de sono regular e nunca havia sofrido de insônia.

Não tem doenças crônicas conhecidas em antecedentes pessoais, não toma medicamentos diariamente e nunca teve distúrbios de sono, assim como não tem histórico familiar de distúrbios do sono. Ao exame físico, apresenta sinais vitais normais e exame físico sem anormalidades. A paciente não tem história de problemas emocionais graves, seu relacionamento familiar é estável, apenas notou aumento do estresse devido à nova demanda profissional.

Tem-se, como diagnóstico diferencial, insônia crônica, que é caracterizada quando esse distúrbio ocorre há mais de 3 meses, mas não é o caso da paciente, cujas queixas começaram somente nas três últimas semanas; distúrbio do sono secundário às condições médicas ou medicamentos, mas são menos prováveis pelo histórico pessoal da paciente; e, insônia ocasional, diagnóstico mais provável, considerando a relação com o estresse recente no trabalho e a curta duração dos sintomas (menos de três meses).

Considerando a hipótese de insônia ocasional, provavelmente devido às mudanças profissionais, com base na história clínica, física e psicossocial da paciente, foi traçado um plano de tratamento:

Higiene do sono:
  • Manter um horário de sono regular;
  • Criar um ambiente propício para o sono;
  • Evitar estimulantes;
  • Limitar o uso de dispositivos eletrônicos.
Gestão do estresse:
  • Práticas de relaxamento;
  • Exercício físico regular;
  • Terapia cognitivo-comportamental (TCC).
Intervenções medicamentosas:
  • Uso de melatonina: pode ser considerada para regular o ciclo do sono, para uso por um curto período e sob orientação médica;
  • Anti-histamínicos de venda livre: como difenidramina, que são amplamente utilizados pelas propriedades sedativas.

A paciente será reavaliada após 30 dias, para monitorar a eficácia do plano de tratamento e realizar ajustes, conforme necessário. Se a insônia persistir, outras causas de distúrbios do sono serão investigadas.

Retorno da paciente

A paciente retornou após 40 dias, relatando que o plano de tratamento foi eficaz. Ela utilizou a difenidramina de forma limitada, sem efeitos colaterais, o que a ajudou a dormir melhor e a se sentir mais disposta durante o dia. Após entregar o projeto no trabalho, ela não notou mais alterações no sono.

A insônia ocasional é definida como o surgimento de dificuldades leves de sono, que ocorrem de duas a três vezes por semana. Os sintomas incluem ter dificuldade em iniciar o sono, manter o sono ou acordar cedo pela manhã e ter um sono não restaurador.1 Geralmente, a duração é de pelo menos um mês, mas menos de três meses.2 Indivíduos com insônia ocasional muitas vezes recorrem a agentes não farmacológicos (como práticas cognitivo-comportamentais e higiene do sono) ou medicamentos de venda livre para melhorar o sono. Medicamentos auxiliares de sono, contendo os anti-histamínicos de venda livre cloridrato de difenidramina, são frequentemente usados ​​para o tratamento de insônia ocasional.1 Mais de 80% dos adultos são afetados todos os anos pela ocorrência de insônia aguda ou de curta duração.3

A difenidramina é um anti-histamínico de primeira geração, com propriedades sedativas e anticolinérgicas, que atua bloqueando os efeitos da histamina e causando sonolência. Devido a essas propriedades sedativas, ela tem sido amplamente utilizada para tratar distúrbios do sono.4 Estudos mostram que a difenidramina pode ser eficaz para tratar insônia ocasional devido à sua capacidade de induzir sono. A dose recomendada é de 50 mg, administrada 20 minutos antes de se deitar.

Um estudo cruzado, controlado por placebo com 20 pacientes idosos com insônia primária, relatou que uma dose de 50 mg de difenidramina teve efeito terapêutico ao reduzir o número de despertares noturnos autorrelatados. Devido ao baixo potencial de abuso da difenidramina, ela pode ser uma opção viável para pacientes com insônia, que também têm propensão ao abuso de substâncias.5 Outro estudo demonstrou que a difenidramina contribuiu significativamente para o aumento do tempo total de sono, principalmente devido ao seu efeito na manutenção do sono.6

A difenidramina é disponibilizada em comprimidos revestidos de 50 mg para uso oral. A posologia recomendada como coadjuvante do sono é de 50 mg, administrada com água, 20 minutos antes de se deitar, independentemente da alimentação.7 A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA reconhece o cloridrato de difenidramina (até 50 mg) e o citrato de difenidramina (até 76 mg) como auxiliares de sono noturno seguros e eficazes.1

O tratamento eficaz da insônia visa melhorar a qualidade do sono, reduzindo a latência para adormecer, minimizando os períodos de sono fragmentado, prevenindo despertares precoces e facilitando o retorno ao sono após interrupções repentinas. Além disso, o tratamento também foca em abordar as causas subjacentes da insônia e em mitigar as deficiências diurnas associadas.8

A insônia ocasional, especialmente quando associada ao aumento do estresse, pode ser gerida eficazmente com mudanças no estilo de vida, práticas de relaxamento e intervenções comportamentais. O acompanhamento regular é crucial para garantir que o tratamento seja eficaz e para fazer ajustes conforme necessário. Além do uso da difenidramina, é importante enfatizar a prática de higiene do sono, exercícios físicos regulares, técnicas de relaxamento e terapia cognitivo-comportamental, para todos os pacientes com distúrbios do sono.

Embora os auxiliares de sono sem receita, como a difenidramina, sejam amplamente disponíveis e apresentem baixo risco de abuso, seu uso é limitado por evidências empíricas modestas de eficácia. Portanto, é fundamental que mais estudos científicos sejam conduzidos para avaliar de forma rigorosa a eficácia e segurança desses medicamentos. A pesquisa adicional ajudará a estabelecer diretrizes mais robustas para o tratamento da insônia e a garantir que os pacientes recebam as intervenções mais eficazes e seguras possíveis.

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Qual a dose recomendada para difenidramina para distúrbios do sono?

 

ADose de 76 mg à noite.

BDose de 50 mg 20 minutos antes de se deitar.

CDose de 50 mg assim que for dormir.

DNenhuma das anteriores.

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Referências bibliográficas

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