Os sintomas vasomotores (SVMs), mais conhecidos como fogachos ou calorões, são a principal causa pela qual a mulher procura o tratamento durante o climatério.1 Aproximadamente 80% das mulheres apresentam SVMs associados à menopausa, que são considerados os sintomas mais comuns e incômodos dessa fase.2 Esses sintomas impactam diversos aspectos da vida da mulher, incluindo sono, humor, concentração, energia, atividades sociais e sexuais.3 Portanto, é crucial que o ginecologista compreenda suas causas e esteja capacitado para aplicar o tratamento mais adequado em cada caso.
Os SVMs são descritos como ondas de calor, fogachos e suores noturnos, e podem ser classificados em:4
- Leves: sensação de calor sem sudorese;
- Moderados: sensação de calor com sudorese, sem interrupção das atividades;
- Intensos: sensação de calor com sudorese, com interrupção das atividades.
A origem dos SVMs reside no cérebro, mais especificamente no hipotálamo, região responsável por regular a temperatura corporal. A abstinência e as oscilações dos níveis do estrogênio são o ponto central na fisiopatologia dos SVMs. Durante a perimenopausa, a menstruação torna-se cada vez mais irregular, e os níveis hormonais passam a sofrer alterações, principalmente os de estrogênio, que começam a flutuar. Essas alterações hormonais resultam no estreitamento da “zona termoneutra” na mulher, levando a episódios de ondas de calor. Normalmente inibido pelo estrogênio, um grupo de neurônios conhecidos como KNDy (kisspeptina, neurocinina B e dinorfina) fica hiperestimulado, levando à desregulação da temperatura corporal.5 Esse fenômeno faz com que até pequenos aumentos na temperatura corporal ativem mecanismos de dissipação do calor. O hipotálamo, por sua vez, recebe a informação de que a temperatura externa está elevada desencadeando, então, para resfriar o corpo, ondas de calor que frequentemente podem ser acompanhadas de sudorese.4
Em geral, um episódio de fogacho dura de 1 a 5 minutos, podendo, às vezes, se estender até uma hora em mulheres na menopausa, e ocorre várias vezes ao dia.6 Manifesta-se como uma sensação súbita de calor, que se inicia no rosto e no pescoço, seguido por intensa sudorese. A pele se enrubesce e sua temperatura aumenta devido à vasodilatação periférica. Associados a esses sintomas, podem ocorrer taquicardia, palpitações e ansiedade.2 Sem tratamento, os SVMs têm duração mediana de 7,4 anos.7
O tratamento dos SVMs começa com mudança no estilo de vida. Adotar alimentação saudável, praticar regularmente atividades físicas e cessar o tabagismo são medidas que auxiliam na redução dos episódios de “calores”.8 Além disso, ingerir bebidas geladas e evitar o consumo de álcool, comidas apimentadas e cafeína também são estratégias simples para diminuir o desconforto causado pelas ondas de calor.9
Quanto aos tratamentos medicamentosos, existem dois tipos de terapias aprovadas para manejo dos SVMs:
- Terapia hormonal;
- Terapia não hormonal.
A terapia hormonal (TH) com estrogênio é a primeira escolha de tratamento dos SVMs e outros sintomas associados à menopausa.9 Em mulheres não histerectomizadas, está indicado o uso combinado de um progestágeno, a fim de proteger o endométrio de hiperplasia e câncer.10
Para as pacientes com contraindicações à TH, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e os inibidores seletivos da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN) são opções terapêuticas.11 A paroxetina é o ISRS aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para uso em pacientes com SVMs, e a venlafaxina, o IRSN que possui maior tolerância e que mostra redução da frequência e intensidade dos fogachos.10 Recentemente, foi aprovado pelo FDA e incorporado nas recomendações da Sociedade Norte-Americana de Menopausa (NAMS), o uso de fezolinetante como opção terapêutica (nível 1 de evidência) para o tratamento dos SVM.12 Essa nova medicação é um antagonista seletivo não hormonal do receptor da neurocinina-3. Ela bloqueia a ligação da neurocinina B nos neurônios KNDy, restaurando o equilíbrio do centro termorregulador do hipotálamo.
Contraindicações à TH:1
- Câncer de mama (atual ou prévio)
- Câncer de endométrio (atual ou prévio)
- Doença arterial coronariana
- Doença cerebrovascular
- Porfirias
- Sangramento vaginal de causa desconhecida
- Lúpus Eritematoso Sistêmico com alto risco trombótico
- Trombofilia ou passado de tromboembolismo venoso
- Doença hepática grave e/ou descompensada
Ao atender uma paciente com fogachos, deve-se sempre realizar uma boa anamnese, seguida de exame físico completo, a fim de identificar possíveis contraindicações ao uso de TH. As ondas de calor são causa de intensa angústia na mulher2 e o ginecologista deve estar habilitado a prescrever o tratamento medicamentoso mais indicado para cada mulher, além de orientar sobre mudanças no estilo de vida.
Em qual região do sistema nervoso se originam os SVMs?
ACerebelo
BHipotálamo
CTronco cerebral
DHipófise
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