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Carreira14 junho 2025

Caso clínico: mais que medicina, ensinando a plenitude da vida

L.M.R não conseguiu me responder, só acenou a cabeça em concordância ao que havia dito e apertou a minha mão como quem diz um “obrigado”

Na série especial “Histórias de Cuidado: Relacionamento médico-paciente”, compartilhamos relatos de médicos sobre casos que vivenciaram em sua rotina e como lidaram com cada situação de forma gentil e empática.

O objetivo é explorar a Medicina sob uma perspectiva mais subjetiva, revelando as nuances do cuidado com o paciente.

Boa leitura!

Leia mais: 8 estratégias para melhorar a relação com seus pacientes durante as consultas

Caso clínico

Após seguir mais alguns dias de muito trabalho na residência de clínica médica, fiquei aliviada por terminar o primeiro ano da residência. Em breve, chegaria o segundo ano com uma carga horária mais tranquila, porém uma maior dedicação aos estudos de mais uma prova de especialização que iria se aproximar.

A rodada da vez ainda era a mesma, na enfermaria de Cuidados Paliativos. O cuidado com o fim da vida de cada paciente quase me fez pensar em seguir a geriatria. Ao adentrar na enfermaria, logo avistei o meu “paciente-amigo” L.M.R.

O dia anterior havia sido feliz para ele. Recebeu muitas visitas de amigos e familiares queridos, deu muitos sorrisos e chegou até a ficar sem a máscara de oxigênio por alguns momentos, obtendo uns flashes de “liberdade”.

Nas tentativas de vencer o cansaço, ele foi contando de forma divertida como tinha sido feliz o seu dia anterior. A cada respiração mais funda, um sorriso de misturava com uma lágrima e eu apenas o examinava e escutava com calma e paciência, como o momento pedia.

Sai da visita como aquela sensação: o fim da vida estava chegando para o paciente-amigo.

Entrei no local de descanso para médicos que havia no hospital e  deixei as lágrimas caírem. Veio sobre mim um misto de impotência por saber que em breve ele iria partir se unia com à felicidade de saber que ele teve bons últimos momentos ao lado daqueles que amava.

A tarde transcorreu difícil, de forma lenta no ambulatório. Não seria noite de plantão no hospital, mas ao fim dos atendimentos ambulatoriais, resolvi correr na enfermaria. Eu precisava “me despedir” daquele que me ensinou tanta coisa.

A despedida

Ao chegar ao seu leito, encarei L.M.R. um pouco mais dispnéico que o habitual. Não queria mais ficar no oxigênio, porém aceitou o aumento da dose de morfina.

Segurei a sua mão e ele a apertou de volta. Nos olhamos por um longo minuto e, no fim, me abaixo próximo de seu ouvido e disse: “Pode ir em paz no momento que o senhor julgar melhor. Sua família e seus amigos te amam muito. Obrigada por tudo.”

Ele não conseguiu me responder, só acenou a cabeça em concordância e apertou a minha mão mais uma vez, como quem diz um “obrigado”.

No dia seguinte, soube pelos colegas de plantão que ele havia partido. Foi em paz, sem sofrimento e com todo suporte que um fim de vida merece ter.

Um eterno “Muito obrigada” é a mensagem que tenho para esse paciente que ensinou muito mais que medicina. Afinal, me ensinou sobre a plenitude da vida.

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