Pacientes com fibromialgia sentem mais os efeitos da covid-19?
Estudos indicaram que cerca de 70% dos pacientes com fibromialgia sofreram com o agravamento da doença durante a covid-19.
Estudos realizados na Itália, no início do lockdown europeu em 2020, indicaram que cerca de 70% dos pacientes com fibromialgia sofreram com o agravamento da doença durante a pandemia. Aqui no país, as pesquisas ainda estão em andamento, mas os especialistas brasileiros já percebem esse mesmo cenário. Isso acontece porque, em muitos casos, o tratamento teve de ser interrompido ou por causa do estresse psicológico que o isolamento social traz aos pacientes.
“Hoje sabemos que os sintomas da covid-19 podem se estender por meses. A fadiga, sintoma predominante na fibromialgia, é um dos sinais mais relatados pelos pacientes. Logo, essas pessoas podem estar mais vulneráveis à fadiga pós-covid. O segundo fator seria que os indivíduos com fibromialgia ao desenvolverem a covid-19 tendem a parar o tratamento medicamentoso e não têm condições de continuar fazendo exercícios físicos, que fazem parte do tratamento. Com isso, os sintomas de dor no corpo e fadiga, típicos da fibromialgia, se associam à fadiga pós-covid. E ainda há um terceiro fator: o comprometimento pulmonar da covid-19 que pode perdurar por diversas semanas, o que limita o paciente com fibromialgia de realizar condicionamento aeróbico, o que leva à piora das duas síndromes”, alertou o reumatologista do Hospital Albert Einstein, Fabio Jennings, em entrevista ao Portal PEBMED.
Os efeitos da pandemia se acentuam nas pessoas que já têm a doença em função dos impactos do isolamento social, da falta de prática de atividade física e do estresse psicológico. “Os pacientes com condições clínicas têm dado continuidade ao tratamento por meio da telemedicina. Os que não têm, infelizmente, estão procurando mais os serviços de saúde, e estão com mais sintomas neste momento”, reforçou o reumatologista.
Fibromialgia e covid-19
De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a fibromialgia atinge cerca de 7 milhões de indivíduos e estima-se que uma a cada 12 pessoas seja portadora da enfermidade no mundo. Ela se manifesta com dor no corpo todo, principalmente na musculatura, atingindo mais as mulheres. O paciente apresenta também sintomas de fadiga, sono não reparador, alterações de memória e atenção, ansiedade e depressão – interferindo diretamente na qualidade de vida e na independência. A causa do aparecimento da doença é desconhecida, mas alguns estudos apontam o estresse e a tensão como indutores.
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Na realidade, trata-se de uma síndrome de dor difusa de causa não totalmente esclarecida, mas que está relacionada ao desequilíbrio dos mecanismos centrais de controle da dor. “O diagnóstico é fundamentalmente clínico por meio da história e exame físico do paciente. Para exclusão de outras enfermidades, quando há suspeição, exames laboratoriais podem ser solicitados. O sintoma de humor deprimido é apenas um dos componentes do quadro sindrômico da fibromialgia e pode não estar presente em muitos pacientes”, esclareceu Jennings.
Orientações aos médicos
De acordo com o reumatologista do Hospital Albert Einstein, os pacientes com fibromialgia devem ser orientados a retornar ou manter o tratamento medicamentoso, que deve ser otimizado por conta dos efeitos benéficos também na síndrome pós-covid. Deve-se instituir um planejamento de reabilitação com exercícios físicos individualizados para cada quadro e fisioterapia respiratória, quando necessária.
Já nos casos de covid-19 grave, os pacientes apresentam perda grande de força e massa muscular, além do comprometimento respiratório, o que torna necessária uma abordagem nutricional associada ao programa de exercícios.
“O acompanhamento é fundamentalmente clínico com o monitoramento dos sintomas. Quando necessário, devem ser solicitados exames laboratoriais para identificar sequelas viscerais da covid-19. São importantes também as medidas de aptidão física realizadas pelo fisioterapeuta ou educador físico e a avaliação nutricional, quando disponível’, orientou Jennings.
Canabidiol como tratamento
Os tratamentos não medicamentosos com exercícios físicos são os que têm melhor evidência de efetividade. “Os que têm melhores evidências são os aeróbicos, mas os exercícios de fortalecimento têm se mostrado efetivos também na melhora da dor, capacidade funcional e aptidão física. Os alongamentos são importantes no sentido de manter ou melhorar a amplitude de movimento que pode estar comprometida nos pacientes. A terapia psicológica é outra intervenção não medicamentosa indicada, caso tenha indicação”, explicou o especialista.
No entanto, somente esses tratamentos nem sempre são suficientes. Por isso, o reumatologista responsável pelo caso pode prescrever medicamentos como antidepressivos, anticonvulsivantes e até o canabidiol.
Dentre os fármacos mais utilizados e com evidências científicas de eficácia, existem os antidepressivos (duloxetina), os anticonvulsivantes (pregabalina), os relaxantes musculares (ciclobenzaprina) e os analgésicos opioides (tramadol).
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Vale ressaltar que os anti-inflamatórios não esteroidais e os corticosteroides não são recomendados.
Atualmente, alguns estudos estão sendo conduzidos com canabidiol com resultados promissores. Contudo, deve-se ter cautela na indicação por conta dos efeitos psicoativos da substância.
“É uma terapia que tem demonstrado um benefício para a dor, mas que deve ser indicada bem especificamente para os pacientes com perfil adequado, uma vez que pode causar alterações de comportamento, alterações motoras, como efeitos colaterais e até mesmo dependência”, ressaltou Jennings.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referência bibliográfica:
- Cavalli G, et al. Living with fibromyalgia during the COVID-19 pandemic: mixed effects of prolonged lockdown on the well-being of patients. Rheumatology (Oxford). 2021 Jan 5;60(1):465-467. doi: 10.1093/rheumatology/keaa738. PMID: 33188686; PMCID: PMC7717382.
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