A nova edição do estudo Demografia Médica 2025, divulgada pela Faculdade de Medicina da USP em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB) e o Ministério da Saúde, traça um retrato abrangente da atuação médica no Brasil. Os dados evidenciam a concentração de especialistas na rede privada, desequilíbrios regionais e gargalos estruturais na assistência à saúde.
Atualmente, o Brasil tem cerca de 597 mil médicos, sendo 59,1% especialistas e 40,9%. Contudo, essa proporção de especialistas ainda está abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (62,9%). Entre as 55 especialidades reconhecidas no Brasil, sete concentram mais da metade dos profissionais: clínica médica, pediatria, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia, anestesiologia, cardiologia e ortopedia.
Distribuição de especialistas médicos pelo Brasil
A distribuição desses profissionais é marcada por forte desigualdade. A região Sudeste concentra 55,4% dos especialistas, seguida pelo Sul (16,7%) e Nordeste (14,5%). Já o Norte responde por apenas 5,9% dos especialistas do país. Em estados como Rondônia e Piauí, menos de 47% dos médicos possuem título de especialista, enquanto no Distrito Federal essa proporção chega a 72,2%.
A formação médica tem crescido expressivamente, com aumento de cursos de graduação e ampliação da residência médica. Em 2024, 63,7% dos títulos de especialista foram obtidos via residência, e 36,3% por exames de titulação das sociedades médicas ligadas à AMB. A maioria dos especialistas (79,1%) possui apenas uma especialidade, enquanto 20,9% acumulam dois ou mais títulos.
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Concentração de acesso aos cuidados médicos especializados
Outro dado relevante do estudo refere-se à realização de cirurgias no país. Os procedimentos mais frequentes — remoção do apêndice, da vesícula biliar e correções de hérnias — são proporcionalmente mais comuns entre pacientes com planos de saúde. Na apendicectomia, a taxa na rede privada foi 34,4% maior do que no SUS. Já na cirurgia de hérnia abdominal, a diferença chegou a 86,6%. Ainda assim, o sistema público realizou a maior parte desses procedimentos.
Essa discrepância está ligada à distribuição dos profissionais: 70% dos cirurgiões atuam nos dois setores, 20% exclusivamente no privado e apenas 10% apenas no SUS. Além disso, 8% das cirurgias no SUS são canceladas por falta de equipe, especialmente anestesistas. Assim, o cenário reforça a urgência de ampliar o acesso à assistência especializada no sistema público.
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A edição de 2025 traz ainda o Atlas da Demografia Médica, com dados detalhados por estado e especialidade. Para os autores, o estudo é fundamental para orientar políticas públicas e fortalecer o SUS. “Nosso objetivo é fornecer evidências sólidas para o planejamento em saúde e para a formulação de estratégias de médio e longo prazo”, afirma o coordenador Mário Scheffer, da FMUSP.
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