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Terapia Intensiva18 novembro 2024

É seguro utilizar a procalcitonina para guiar o tempo da terapia antimicrobiana?

A procalcitonina (PCT) é uma ferramenta potencialmente útil entre doentes críticos, especialmente com o propósito de reduzir a exposição antimicrobiana
Por Julia Vargas

A sepse é uma condição nosocomial frequente. O uso de biomarcadores, como a procalcitonina, tem sido estudado para guiar a descontinuação precoce de antibióticos, reduzindo a resistência bacteriana e a ocorrência de eventos adversos.

procalcitonina

Contexto 

A resistência antimicrobiana está aumentando e a previsão é de que se torne a principal causa mundial de morte até 2050 — contabilizando 10 milhões de óbitos/ano. Os pacientes críticos em UTI estão sob alto risco de infecção por organismos multirresistentes (MDR) devido à deficiência imunológica adquirida e ao uso indiscriminado de antibióticos, resultando em uma morbimortalidade muito elevada. 

Apenas 60% dos pacientes críticos, inicialmente diagnosticados com sepse, têm a infecção confirmada. Ou seja, estima-se que até 40% das prescrições de antibióticos nesse cenário são desnecessárias, ampliando os custos e os eventos adversos. 

A procalcitonina (PCT), um biomarcador inflamatório com sensibilidade semelhante à da proteína C reativa e especificidade significativamente superior (90 vs. 56%) na diferenciação entre infecção bacteriana e viral, tem sido investigada como um guia para reduzir a exposição à terapia antibiótica.  

Leia mais: Qual é o valor da procalcitonina na terapia intensiva?

Resultados mais recentes 

Algumas metanálises têm associado o emprego da PCT ao encurtamento da antibioticoterapia e à redução da mortalidade, mas com resultados conflitantes nos desfechos secundários, como taxa de recorrência de infecção e de infecção secundária.  

No cenário das infecções respiratórias, o grupo guiado por PCT teve uma redução consistente na mortalidade, menor uso e duração da antibioticoterapia e, por consequência, menor taxa de efeitos adversos. Não houve diferença significativa na taxa de falha terapêutica ou no tempo de internação hospitalar e em UTI.  

Estudos envolvendo sepse de focos distintos identificaram uma redução do tempo de uso de antibióticos, mas maiores taxas de recorrência de infecção. 

Entre doentes oncológicos críticos com sepse, o uso da PCT não reduziu a duração do tratamento antimicrobiano, sugerindo que, nesse cenário, a PCT, isoladamente, pode não ser um indicador confiável para guiar a terapia antimicrobiana.  

Leia também: Procalcitonina sérica: um ótimo marcador para decisão e monitoramento da terapia antimicrobiana

Conclusão e aplicabilidade 

  • A procalcitonina (PCT) é uma ferramenta potencialmente útil entre doentes críticos, especialmente com o propósito de reduzir a exposição antimicrobiana ao fomentar, em conjunto com o julgamento clínico, a descontinuação mais precoce.  
  • O encurtamento da antibioticoterapia, contudo, deve ser balanceado com o risco potencial de recorrência das infecções primárias ou evolução com infecções secundárias, especialmente em focos não respiratórios.  
  • A sua implementação rotineira em UTI exige estudos adicionais para a melhor definição dos benefícios e limitações, especialmente entre pacientes oncológicos. 
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Referências bibliográficas

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