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Terapia Intensiva26 maio 2025

Estudo OPTPRESS: Alvo pressórico ideal em idosos sépticos

Estudo OPTPRESS avaliou o impacto de um alvo pressórico mais elevado nos desfechos clínicos de pacientes idosos com choque séptico

Publicação traz um ensaio clínico randomizado multicêntrico que avaliou o impacto de um alvo pressórico mais elevado nos desfechos clínicos de pacientes idosos com choque séptico. 

A pressão arterial média (PAM) ideal em pacientes com choque séptico ainda é motivo de debate. Desde a publicação do estudo SEPSISPAM, em 2014, que comparou alvos de PAM entre 65–70 mmHg e 80–85 mmHg sem demonstrar benefício na mortalidade global, passou-se a especular se subgrupos específicos, como idosos com hipertensão crônica, poderiam se beneficiar de estratégias mais agressivas [2]. Embora o limiar de 65 mmHg seja amplamente recomendado pelas diretrizes, há preocupação de que esse valor possa ser insuficiente para garantir perfusão tecidual adequada em idosos com complacência vascular reduzida e histórico de hipertensão. Estudos anteriores sugeriram que alvos pressóricos mais elevados poderiam preservar a função renal nesse grupo, mas também levantaram dúvidas sobre os riscos associados ao uso intensivo de vasopressores, como isquemia, arritmias e disfunção orgânica. Além disso, os dados disponíveis até então provinham majoritariamente de países ocidentais e não refletiam realidades demográficas e epidemiológicas distintas, como a da população japonesa, na qual a prevalência de hipertensão em idosos ultrapassa 65%. 

Nesse contexto, o estudo OPTPRESS teve como objetivo avaliar se a manutenção de uma PAM entre 80–85 mmHg, associada à estratégia de uso precoce de vasopressina para reduzir a exposição a catecolaminas, seria superior à abordagem convencional (65–70 mmHg) em pacientes idosos com choque séptico.  

Veja mais: Monitorização da Pressão Arterial Invasiva: além da Pressão Arterial Média (PAM)

idosa medindo pressão arterial

Metodologia  

O OPTPRESS foi um ensaio clínico randomizado, aberto, multicêntrico e pragmático, realizado em 29 centros no Japão entre julho de 2021 e dezembro de 2023. Foram incluídos pacientes ≥ 65 anos com choque séptico segundo os critérios Sepsis-3. Os participantes foram randomizados para dois grupos: alvo de PAM de 80–85 mmHg (grupo intervenção) ou 65–70 mmHg (grupo controle), com uso protocolado de vasopressina precoce. O desfecho primário foi a mortalidade por todas as causas em 90 dias.  

Resultados 

Foram incluídos 518 pacientes, com mediana de idade de 78 anos e alta prevalência de hipertensão crônica (53%). A maioria das infecções era de origem abdominal (30%), urinária (26%) e pulmonar (25%). O tempo entre início da norepinefrina e randomização foi de 60 minutos. Todos os participantes eram japoneses, o que confere ao estudo uma contribuição única na representação de populações asiáticas na literatura sobre choque séptico. 

A mortalidade em 90 dias foi significativamente maior no grupo com alvo pressórico mais elevado (39,3% vs. 28,6%; diferença absoluta = 10,7%; IC 95%: 2,6–18,9; p = 0,012). Além disso, o grupo intervenção apresentou menor número de dias livres de catecolaminas, ventilação mecânica e terapia renal substitutiva. A mortalidade por sepse também foi mais alta (30,0% vs. 17,8%). Eventos adversos, como arritmias, isquemia e sangramentos, foram mais frequentes na estratégia de PAM elevada. Nenhum subgrupo, nem mesmo os pacientes com hipertensão crônica, apresentou benefício com a estratégia de maior PAM. 

Mensagem prática 

Em pacientes idosos com choque séptico, a estratégia de PAM de 80–85 mmHg aumentou a mortalidade e piorou desfechos clínicos em comparação com a abordagem padrão de 65–70 mmHg. Até que novas evidências demonstrem o contrário, alvos mais elevados de PAM não devem ser adotados rotineiramente, mesmo em pacientes previamente hipertensos. 

Autoria

Foto de Yuri Albuquerque

Yuri Albuquerque

Doutorando em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP) • Residência em Medicina Intensiva pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) • Residência em Clínica Médica ano complementar (R3) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) • Residência em Clínica Médica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) • Médico intensivista rotina do hospital Samaritano Paulista • Título de Especialista em ECMO pela Extracorporeal Life Support Organization (ELSO) • Título de Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB)

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Referências bibliográficas

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