Hidrocortisona no choque séptico: qual tipo de infusão é mais eficiente?
A sepse é definida por resposta imunológica exagerada a um processo infeccioso, resultando em disfunções orgânicas. O choque séptico, por sua vez, refere-se à hipotensão arterial irresponsiva à expansão volêmica e associada à hiperlactatemia.
A recomendação para o emprego de corticosteroides na sepse encontra alguns poucos nichos, entre os quais destacamos o choque séptico refratário, que, por consenso, requer a demanda por noradrenalina em taxas ≥ 0,25 μg/kg/min.
A plausibilidade da corticoterapia no cenário do choque séptico repousa nos seguintes argumentos:
- Prevalência de insuficiência adrenal relativa em até metade desses pacientes;
- Ambiente pró-inflamatório, com tempestade citocínica, contribuindo com a progressão das disfunções orgânicas;
- Capacidade dos corticoides de amplificar a resposta às aminas vasoativas e promover a retenção hidrossalina, especialmente com a hidrocortisona.
Os potenciais benefícios presumidos devem ser contrabalanceados com os conhecidos eventos adversos, como a hiperglicemia e fraqueza muscular.
As diretrizes da Surviving Sepsis Campaign (SSC) indicam duas formas para a administração da hidrocortisona:
- Infusão contínua com dose diária de 200 mg;
- Infusão intermitente: 50 mg a cada 6 horas.
No estudo APROCCHS, publicado no NEJM em 2018 e que envolveu 1.241 pacientes, observou-se uma redução da mortalidade total em 90 dias com a comboterapia entre hidrocortisona e fludrocortisona em comparação ao placebo (43% vs. 49,1%, P = 0,03). Em contrapartida, no estudo ADRENAL, também publicado no NEJM em 2018 e que contemplou mais de 3.500 indivíduos com choque séptico sob ventilação mecânica, não foi observado impacto significativo na mortalidade em 90 dias com a infusão contínua de hidrocortisona em relação ao placebo (27,9% vs. 28,8%, P =0,05), embora tenha sido observada uma resolução mais célere do choque séptico, um desfecho secundário, com média de 1 dia (3 dias vs. 4 dias, HR 1,32 e P < 0,001).
Os dados conflituosos sobre a mortalidade mantêm a relevância de estudos adicionais sobre o tema.
Bolus vs. infusão contínua
O protocolo mais popular de administração da hidrocortisona entre os intensivistas é o intermitente. Até o presente momento, não foram observadas diferenças significativas na taxa de reversão do choque ou ocorrência de eventos adversos quando comparada à estratégia de infusão contínua.
Saiba mais: Como identificar e tratar a SEPSE e o Choque Séptico?
Mensagens práticas
A hidrocortisona é recomendada pela SSC com adjuvante no tratamento do choque séptico refratário, na dosagem de 200 mg/dia, não havendo recomendação específica entre a administração intermitente ou contínua.
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