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Terapia Intensiva15 setembro 2025

Recuperação Renal Pós-Lesão Renal Aguda

A recuperação pós lesão renal aguda é complexa, muitas vezes incompleta e pode evoluir para DRC. Avaliação e acompanhamento são essenciais para o prognóstico.
Por Julia Vargas

A recuperação renal após uma lesão renal aguda (LRA) é um processo dinâmico e multifásico e pode ser completo, com restauração da taxa de filtração glomerular (TFG) e da função tubular, ou incompleto, levando à fibrose intersticial e perda de néfrons funcionais, o que predispõe à DRC. 

A extensão e duração da lesão, idade do paciente, presença de comorbidades, gravidade da LRA e necessidade de terapia de substituição renal (TSR) são fatores críticos que influenciam o padrão e a probabilidade de recuperação. A TSR, especialmente quando iniciada precocemente ou realizada de forma intensiva, pode retardar a recuperação renal, possivelmente por mecanismos como hipotensão dialítica e processos inflamatórios induzidos pela membrana dialítica. 

Clinicamente, a recuperação é caracterizada pela normalização da creatinina sérica e do débito urinário, mas a TFG pode não retornar ao valor basal, e a perda subclínica de néfrons pode ocorrer mesmo com aparente recuperação laboratorial. O retorno da TFG aos níveis pré-LRA não exclui dano estrutural residual. A avaliação e o acompanhamento de sobreviventes de LRA são essenciais, mas ainda há lacunas na padronização e no manejo pós-alta. 

Avaliação pós-LRA 

A avaliação pós-LRA deve ir muito além da simples observação da creatinina sérica no momento da alta hospitalar. Embora esse marcador seja o mais utilizado, ele apresenta diversas limitações, sobretudo em pacientes críticos que frequentemente apresentam perda de massa muscular, doença hepática avançada ou condições que alteram sua produção e secreção, o que pode levar a uma superestimação da função renal. 

A cistatina C surge como alternativa útil, por não depender da massa muscular, mas ainda pode ser influenciada por inflamação ou pelo uso de determinados fármacos, como corticosteroides. Biomarcadores mais recentes, como a proencefalina A, permitem estimar a TFG em tempo real e podem antecipar a detecção de recuperação ou persistência da disfunção renal. No entanto, esses marcadores ainda não estão amplamente disponíveis na prática clínica. 

A análise da albuminúria e da proteinúria sugerem lesão renal persistente, além de serem fatores prognósticos para progressão da DRC e risco cardiovascular. Mesmo níveis baixos de albuminúria já se associam a desfechos desfavoráveis e, pela facilidade de obtenção, seu monitoramento deve ser incorporado sistematicamente ao seguimento dos sobreviventes de LRA. 

O conceito de reserva funcional renal (RFR) se refere à capacidade dos néfrons remanescentes de aumentar a TFG em resposta a estímulos, como sobrecarga proteica. Pacientes que apresentam normalização da creatinina ou da TFG após LRA podem, na realidade, estar utilizando a hiperfiltração compensatória dos néfrons sobreviventes, o que mascara a perda estrutural e aumenta o risco para DRC. Embora a avaliação prática da RFR ainda seja restrita a contextos de pesquisa, sua compreensão ajuda a interpretar de forma mais crítica os resultados laboratoriais. 

Veja mais: EUROBRAZIL 2025: Função renal aguda e seus desafios 

Predição de não recuperação 

– Fatores de risco: idade avançada, duração e gravidade da LRA, necessidade de TRS, etiologia séptica/isquêmica/nefrótica. 

– Biomarcadores promissores: CCL14 (forte preditor de LRA persistente grave), DKK-3 e suPAR. 

– Teste de estresse com furosemida pode complementar predição. 

Estratégias de promoção da recuperação 

  1. Otimização hemodinâmica e de volume: evitar sobrecarga e congestão venosa. 
  2. Evitar nefrotóxicos e mitigar “dialytrauma” na TRS (hipotensão intradialítica, remoção excessiva de volume, doses altas de CRRT). 
  3. Modalidades de TRS: evidências conflitantes; CRRT inicial pode associar-se a menor dependência dialítica em 90 dias em alguns estudos; diálise peritoneal pode antecipar recuperação em populações específicas. 
  4. Farmacoterapia: bloqueadores do SRAA e inibidores de SGLT2 podem oferecer nefroproteção e efeito antifibrótico, mas precisam de mais estudos no contexto pós-LRA. Antioxidantes e agentes antifibróticos estão em investigação. 

Em resumo, a recuperação renal após LRA é um processo ativo modulado por fatores clínicos e terapêuticos e frequentemente incompleto, com risco significativo de progressão para DRC, especialmente em pacientes com fatores de risco. O acompanhamento prolongado é fundamental para identificar e manejar as sequelas renais a longo prazo. 

 

Autoria

Foto de Julia Vargas

Julia Vargas

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