Pacientes com lesão cerebral aguda (LCA), como TCE grave, AVC, hemorragia subaracnóidea e encefalopatia hipóxico-isquêmica, frequentemente necessitam de ventilação mecânica (VM). Nesses casos, além do suporte ventilatório propriamente dito, a VM também pode influenciar diretamente pressão intracraniana (PIC), pressão de perfusão cerebral (PPC) e oxigenação cerebral.
O conceito de ventilação protetora cerebral integra estratégias pulmonares tradicionais com monitorização neurológica, a fim de minimizar tanto a injúria pulmonar induzida pelo ventilador (VILI) quanto a lesão cerebral secundária.
Abaixo, descrevemos as 10 principais recomendações para a condução adequada desses casos:
- A escolha do modo ventilatório deve priorizar metas fisiológicas
- VCV é preferido na fase aguda por maior controle do volume corrente (VC) e do PaCO₂.
- PCV pode ser útil quando complacência está reduzida.
- Deve-se manter alvos estreitos de EtCO₂ e SpO₂.
- Evitar flutuações de PaCO₂, pois elas alteram rapidamente o fluxo cerebral.
- PEEP pode ser utilizada, desde que monitorizada com vigilância cerebral
- Níveis moderados (5–10 cmH₂O) geralmente são bem tolerados.
- PEEP deve ser titulada observando PIC, PPC e hemodinâmica.
- Hipoxemia é mais danosa ao cérebro do que o uso criterioso de PEEP.
- PEEP mais alta (até 15 cmH₂O) pode ser usada em SDRA, se PIC e PPC permanecerem estáveis.
- Manter pressão de platô em níveis protetores
- Alvo sugerido: Pplat ≤ 27–30 cmH₂O.
- Alguns ensaios indicam possível benefício de Pplat ainda mais baixa (<25 cmH₂O).
- Pressões elevadas aumentam risco de VILI, inflamação sistêmica e comprometimento da drenagem venosa cerebral.
- Ajustar o volume corrente
- 6–8 mL/kg de peso predito.
- VC moderado (7–8 mL/kg) pode auxiliar no controle do PaCO₂ quando complacência pulmonar é preservada.
- No SDRA, manter VC baixo permanece mandatário.
- VC deve ser guiado por Pplat, driving pressure (ΔP) e PIC.
- Minimizardrivingpressure (ΔP)
- ΔP < 15 cmH₂O é fortemente recomendado.
- ΔP elevado é preditor independente de mortalidade e de inflamação pulmonar/cerebral.
- Ajustes devem priorizar recrutamento com otimização da PEEP antes de reduzir VC
- MonitorarMechanicalPower (MP)
- MP incorpora VC, ΔP, FR e PEEP; reflete o “estresse energético” total aplicado ao pulmão.
- Meta recomendada: MP < 17 J/min.
- FR elevada — comum na tentativa de controlar PaCO₂ — aumenta substancialmente MP e pode induzir VILI.
- PaCO₂ deve ser titulado conforme PIC e fluxo sanguíneo cerebral
- Normocapnia (35–40 mmHg) é o alvo padrão.
- Hipocapnia leve (30–35 mmHg) pode ser usada temporariamente em crises hipertensivas de PIC.
- Hiperventilação prolongada induz isquemia e deve ser evitada.
- Evitar tanto hipoxemia quantohiperóxia
- Alvo: PaO₂ 80–120 mmHg (SpO₂ 92–96%).
- Hiperóxia prolongada (PaO₂ > 150 mmHg) está associada a pior desfecho neurológico.
- PbtO₂ (<20 mmHg) pode indicar necessidade de ajustes na PPC em vez de apenas aumentar FiO₂.
- Traqueostomia precoce
- Estudos não mostram benefício universal do procedimento precoce (<4 dias) e não deve ser realizada de rotina.
- Pode facilitar desmame, reduzir sedação e melhorar avaliação neurológica em pacientes neurocríticos.
- Deve considerar evolução neurológica, volume de secreções e tempo previsto de VM.
- Sedação, balanço hídrico eneuromonitorização
- Sedação mínima necessária, com interrupções diárias quando seguro.
- Propofol preferido por reduzir metabolismo cerebral e facilitar avaliação.
- Euvolemia é essencial: hipovolemia compromete PPC e a hipervolemia agrava edema pulmonar.
- PIC, PPC, PbtO₂ e autorregulação devem ser integrados às decisões ventilatórias.
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