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Terapia Intensiva15 dezembro 2025

Ventilação Mecânica Protetora Cerebral

Conheça as 10 recomendações essenciais de ventilação protetora cerebral para pacientes com lesão cerebral aguda.
Por Julia Vargas

Pacientes com lesão cerebral aguda (LCA), como TCE grave, AVC, hemorragia subaracnóidea e encefalopatia hipóxico-isquêmica, frequentemente necessitam de ventilação mecânica (VM). Nesses casos, além do suporte ventilatório propriamente dito, a VM também pode influenciar diretamente pressão intracraniana (PIC), pressão de perfusão cerebral (PPC) e oxigenação cerebral.  

O conceito de ventilação protetora cerebral integra estratégias pulmonares tradicionais com monitorização neurológica, a fim de minimizar tanto a injúria pulmonar induzida pelo ventilador (VILI) quanto a lesão cerebral secundária. 

Abaixo, descrevemos as 10 principais recomendações para a condução adequada desses casos: 

  1. A escolha do modo ventilatório deve priorizar metas fisiológicas
  • VCV é preferido na fase aguda por maior controle do volume corrente (VC) e do PaCO₂. 
  • PCV pode ser útil quando complacência está reduzida. 
  • Deve-se manter alvos estreitos de EtCO₂ e SpO₂. 
  • Evitar flutuações de PaCO₂, pois elas alteram rapidamente o fluxo cerebral. 
  1. PEEP pode ser utilizada, desde que monitorizada com vigilância cerebral
  • Níveis moderados (5–10 cmH₂O) geralmente são bem tolerados. 
  • PEEP deve ser titulada observando PIC, PPC e hemodinâmica. 
  • Hipoxemia é mais danosa ao cérebro do que o uso criterioso de PEEP. 
  • PEEP mais alta (até 15 cmH₂O) pode ser usada em SDRA, se PIC e PPC permanecerem estáveis. 
  1. Manter pressão de platô em níveis protetores
  • Alvo sugerido: Pplat ≤ 27–30 cmH₂O. 
  • Alguns ensaios indicam possível benefício de Pplat ainda mais baixa (<25 cmH₂O). 
  • Pressões elevadas aumentam risco de VILI, inflamação sistêmica e comprometimento da drenagem venosa cerebral. 
  1. Ajustar o volume corrente 
  • 6–8 mL/kg de peso predito. 
  • VC moderado (7–8 mL/kg) pode auxiliar no controle do PaCO₂ quando complacência pulmonar é preservada. 
  • No SDRA, manter VC baixo permanece mandatário. 
  • VC deve ser guiado por Pplat, driving pressure (ΔP) e PIC. 
  1. Minimizardrivingpressure (ΔP) 
  • ΔP < 15 cmH₂O é fortemente recomendado. 
  • ΔP elevado é preditor independente de mortalidade e de inflamação pulmonar/cerebral. 
  • Ajustes devem priorizar recrutamento com otimização da PEEP antes de reduzir VC 
  1. MonitorarMechanicalPower (MP) 
  • MP incorpora VC, ΔP, FR e PEEP; reflete o “estresse energético” total aplicado ao pulmão. 
  • Meta recomendada: MP < 17 J/min. 
  • FR elevada — comum na tentativa de controlar PaCO₂ — aumenta substancialmente MP e pode induzir VILI. 
  1. PaCO₂ deve ser titulado conforme PIC e fluxo sanguíneo cerebral
  • Normocapnia (35–40 mmHg) é o alvo padrão. 
  • Hipocapnia leve (30–35 mmHg) pode ser usada temporariamente em crises hipertensivas de PIC. 
  • Hiperventilação prolongada induz isquemia e deve ser evitada. 
  1. Evitar tanto hipoxemia quantohiperóxia
  • Alvo: PaO₂ 80–120 mmHg (SpO₂ 92–96%). 
  • Hiperóxia prolongada (PaO₂ > 150 mmHg) está associada a pior desfecho neurológico. 
  • PbtO₂ (<20 mmHg) pode indicar necessidade de ajustes na PPC em vez de apenas aumentar FiO₂. 
  1. Traqueostomia precoce
  • Estudos não mostram benefício universal do procedimento precoce (<4 dias) e não deve ser realizada de rotina. 
  • Pode facilitar desmame, reduzir sedação e melhorar avaliação neurológica em pacientes neurocríticos. 
  • Deve considerar evolução neurológica, volume de secreções e tempo previsto de VM. 
  1. Sedação, balanço hídrico eneuromonitorização 
  • Sedação mínima necessária, com interrupções diárias quando seguro. 
  • Propofol preferido por reduzir metabolismo cerebral e facilitar avaliação. 
  • Euvolemia é essencial: hipovolemia compromete PPC e a hipervolemia agrava edema pulmonar. 
  • PIC, PPC, PbtO₂ e autorregulação devem ser integrados às decisões ventilatórias. 

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Julia Vargas

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