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Saúde11 fevereiro 2017

PEBMED entrevista: a realidade do sistema de saúde no Brasil

Nessa edição do PEBMED entrevista analisamos a realidade do sistema de saúde no Brasil e como podemos transformá-la. Veja esse importante bate-papo.

Por Vanessa Thees

Nessa edição do PEBMED entrevista, contamos com a participação do Mestre e Doutor em medicina, Ronaldo Gismondi, para analisar a realidade do sistema de saúde no Brasil e como podemos transformá-la. Veja esse importante bate-papo no vídeo abaixo.

Bruno Lagoeiro: Tudo bem, pessoal? Seja bem-vindo ao PEBMED Entrevista. E hoje eu estou recebendo aqui o Doutor e professor da Universidade Federal Fluminense, Ronaldo Gismondi. E a gente vai discutir um artigo que o Ronaldo analisou em dezembro no portal de notícias da PEBMED, que falava sobre as dificuldades em lidar com os escassos recursos do sistema de saúde público e a escolha frente aos pacientes. Como você enxerga hoje esse desafio na vida do médico brasileiro?

Ronaldo Gismondi: Bom, em primeiro lugar eu vou agradecer o convite. É um prazer estar aqui com vocês. O que acontece? A gente hoje vive essa realidade de muita demanda, então tem muito paciente, para pouca oferta dos meus serviços. A Flávia no artigo usou o exemplo da UTI de um hospital público. E olha que ela está falando da UTI de um dos melhores hospitais de São Paulo.

Isso é o dia a dia. Mas a gente vive o mesmo tipo de estrangulamento em outras situações. É a demanda do posto de saúde do hospital universitário. Quem é o paciente da atenção primária que eu vou mandar de um hospital universitário? No hospital universitário, na fila, por exemplo, de uma cirurgia de câncer, quem vai operar primeiro? Das cirurgias que eu tenho para fazer hoje, quem entra? Quem espera até amanhã? Então, esse dilema de você ter uma grande demanda, pessoas precisando e pouca oferta de vaga, é o nosso dia a dia.

Bruno: Como é que você enxerga hoje se as instituições estão ensinando o médico jovem a lidar com isso, se os staffs, se os professores, se os médicos mais experientes estão ensinando o aluno e o recém formado ou residente a lidar com essas escolhas?

Ronaldo: No hospital universitário e, na verdade, na maioria dos hospitais públicos, a infantaria, aquele que de fato presta o atendimento inicial, é o residente, que é um médico que tem menos de cinco anos de formado. É claro que o residente tem supervisão, mas eventualmente, ele vai estar sem o seu supervisor do dia a dia, vai estar com um plantão, o supervisor vai estar ocupado e cai muito nas costas dele a decisão.

E para quem é muito jovem, eu acho que a carga emocional fica muito pesada, aquilo gera muito sofrimento, angústia, sofrimento, a pessoa depois fica repensando aquilo, principalmente nos casos assim. Vamos supor, então ele escolheu a moça jovem, e aí o menino com paralisia cerebral morre porque não teve a vaga no CTI. Então, ele carrega isso, essa culpa depois de muito tempo. Então, o que a gente tenta fazer é poder dar o bom senso, ouvir as frustrações, passar as experiências emocionais para elas, porque a gente também passou por isso na época de formado.

Bruno: E hoje você acha que falta maturidade na formação médica para entender um pouco mais essa relação do custo de cada ato tomado?

Ronaldo: O custo é um problema. A gente hoje tem a geração inteira, principalmente os mais velhos, os que supervisionam vocês, muitas vezes não têm essa preocupação, porque quando está no público a sensação é que não é de ninguém “Estou gastando, não é meu, é do governo.”. A gente esquece que o porcento do governo vem daquilo que a gente paga. Então, esse é um problema.

E no privado é a mesma coisa, porque a sensação “O plano vai pagar.”. Então, eu acho- a gente tem um problema hoje legal, porque teoricamente o médico tem autonomia, é muito complicado você limitar autonomia, a ideia não é limitar autonomia, mas a gente tem que ter uma forma de controle que racionalize esses pedidos de exame. Então, a dúvida é como fazer isso sem cercear o médico.

Bruno: Na sua visão, como que você acha que a gente pode transformar a saúde no Brasil?

Ronaldo: É difícil, né? Se eu soubesse, né? Se eu soubesse. É difícil. Eu acho que tem duas áreas de atuação. Do ponto de vista coletivo, eu acho que no SUS, no governo público, a implantação do SUS, o SUS é lindo. O SUS que a gente vê, principalmente aquele de 88, menos regulamentado, ele é sensacional. Se aquilo funcionar, resolve os problemas. Além disso, no privado, o coletivo privado, eu acho que é a racionalização do custo.

Tem que encontrar uma forma, sem tirar a autonomia do médico, de você limitar essa quantidade absurda de exame que as pessoas fazem porque esse é o maior custo do plano de saúde. Individualmente, eu acho que cabe a nós fazer a nossa parte. A gente tem muito colega que infelizmente não cumpre a carga horária, que, às vezes, porque a remuneração é baixa, atende no volume, essa coisa individual de você-

Bruno: Fazer uma conscientização ali?

Ronaldo: – fazer o que é correto. Exatamente. A gente cobra muito do político ações macro, eu tenho que ter, todas. Mas a gente tem que ter abertura política, a gente tem que ter a ação individual-

Bruno: Com certeza.

Ronaldo: – de fazer o que é certo.

Bruno: Ronaldo, muito obrigado-

Ronaldo: Eu que agradeço.

Bruno: – pela presença. E para você que ficou com a gente até agora, não deixe de ver os outros vídeos, foram muito interessantes. Na descrição do vídeo você encontra o link direto para o texto que a gente discutiu. E eu te vejo no mês que vem com um bate-papo com outra pessoa interessante da área de saúde, onde a gente possa descobrir como que a gente vai transformar a saúde brasileira. Até a próxima. Um abraço.

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