FIB-4: ferramenta para identificar e estratificar o risco de pacientes com MASLD

A doença hepática associada à disfunção metabólica (MASLD) é uma causa cada vez mais prevalente de cirrose e insuficiência hepática. No entanto, essas condições seguem provavelmente subdiagnosticadas, principalmente diante de uma variedade de calculadoras, exames de sangue proprietários e modalidades de imagem sem um consenso claro sobre como e quando usar essas ferramentas. 

 

A American Diabetes Association (ADA) publicou recentemente um novo guideline, buscando esclarecer as recomendações para rastreio e estratificação de risco da MASLD. De acordo com o documento, a avaliação do FIB-4 deve ser feito em pacientes com pré-diabetes ou diabetes do tipo 2, especialmente aqueles com obesidade, e usado da seguinte forma: 

• Escores <1.3 indicam baixo risco de fibrose avançada. Repetir avaliação a cada 1 a 2 anos. 

• Os escores entre 1.3 e 2.67 indicam risco intermediário e devem ser seguidos por elastografia transitória controlada por vibração (VCTE) para medir a rigidez hepática.  Exames com rigidez ≥8.0 kPa devem ser encaminhados para avaliação especializada. Se resultado < 8.0 kPa, manter seguimento na atenção primária com testes repetidos a cada um a dois anos. 

• Pacientes com FIB-4 de ≥2,67 têm alta probabilidade de fibrose avançada e podem ser encaminhados diretamente aos hepatologistas, mesmo sem a realização da elastografia. 

Quando o VCTE não está disponível, a ADA recomenda o Enhanced Liver Fibrosis (ELF), um teste sorológico proprietário que combina três parâmetros. Resultados > 9.8 indicam fibrose avançada (F3) e devem ser encaminhados a um especialista. 

Métodos 

Um estudo de coorte recente realizado na França fornece algumas dicas sobre como esse algoritmo pode funcionar em ambientes de atenção primária. Os investigadores estimaram o valor preditivo positivo e negativo de testes não invasivos para identificar pacientes com risco intermediário ou alto de fibrose avançada em 654 adultos com diabetes, obesidade ou ambos (excluindo pacientes com índice de massa corporal ≥40 kg / m2).

Resultados

Entre os testes de primeira linha, o FIB-4 teve o melhor desempenho, classificando mais da metade da coorte como de baixo risco, com valor preditivo negativo (VPN) de 97%. Outros testes descartaram poucos pacientes ou tiveram VPN inaceitavelmente baixo. Entre os algoritmos de duas etapas, o FIB-4 seguido pelo VCTE teve o melhor desempenho, corroborando a recomendação da diretriz da ADA. 

Conclusão e mensagem prática

A classe médica deve se familiarizar com tais ferramentas, permitindo um rastreio relativamente simples para pacientes com pré-diabetes ou diabetes. A própria diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) também segue a recomendação da avaliação inicial do FIB-4, seguido da elastografia.  

A divulgação de novos dados demonstrando benefícios com a terapia baseada em GLP1 (estudo ESSENCE, com a semaglutida reduzindo inflamação e fibrose), e o desenvolvimento de novos afonistas duplos de GLP-1/glucagon, com benefícios dirigidos ao metabolismo hepático prometem novas perspectivas na abordagem dessa condição frequente, prevenindo evolução para formas graves de cirrose e hepatocarcinoma.