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Gastroenterologia30 julho 2024

Construindo uma flora intestinal saudável: impacto da microbiota infantil

O desenvolvimento de uma microbiota intestinal saudável na infância influencia o desenvolvimento físico e mental, e impacta no aparecimento de doenças na fase adulta
Por Jôbert Neves

Este conteúdo foi produzido pela Afya em parceria com Cellera Farma de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal Afya.

O corpo humano abriga trilhões de células microbianas, especialmente no intestino, cujas ações coordenadas são essenciais para uma vida saudável. A microbiota intestinal é formada majoritariamente por bactérias, mas também é composta por vírus, fungos, eucariontes e arqueas.1 O desenvolvimento e maturação desse ecossistema microbiano constitui um processo dinâmico extremamente complexo, influenciado por diversos fatores, como: condições perinatais, como modo de parto, tipo de alimentação após o nascimento e uso de antibióticos.2 A dieta (especialmente se rica em gorduras), a idade e o estado metabólico da mãe, bem como a genética e o estilo de vida da família, também impactam na formação da microbiota infantil.2 O desenvolvimento de uma microbiota intestinal saudável na infância é especialmente importante, pois pode influenciar o desenvolvimento físico e mental, além de impactar diretamente no aparecimento de doenças na fase adulta.3

Impacto da via de parto e idade gestacional

Recém-nascidos que nascem por parto vaginal entram em contato com a microbiota vaginal e fecal materna, resultando na colonização do intestino neonatal por microrganismos associados à vagina, como Lactobacillus. Por outro lado, bebês nascidos por cesariana são mais propensos a serem colonizados por microrganismos da pele materna e do ambiente hospitalar. Já neonatos prematuros exibem colonização intestinal retardada com microrganismos anaeróbios comensais, como Bifidobacterium ou Bacteroides, e suas fezes contêm níveis significativamente mais altos de Enterobacteriaceae, Enterococcus e outros microrganismos patogênicos oportunistas em comparação com neonatos a termo.2

Impacto do aleitamento materno e alimentação na primeira infância

A amamentação fornece uma mistura de nutrientes e agentes pró e antimicrobianos que favorece o desenvolvimento da chamada “microbiota do leite materno”.2,4 Estudos recentes têm demonstrado que o leite materno, longe de ser um fluido estéril, constitui uma excelente e contínua fonte de bactérias comensais para o intestino. Por outro lado, bebês alimentados com fórmula são expostos a diferentes carboidratos, bactérias e (micro)nutrientes, resultando em diferentes padrões de colonização microbiana.4 Comparativamente, as fezes de bebês amamentados contêm níveis mais altos de bifidobactérias e lactobacilos e níveis mais baixos de patógenos potenciais em comparação com aqueles alimentados com fórmula, que apresentam uma microbiota intestinal mais diversa dominada por estafilococos, Bacteroides, clostrídios, enterococos, enterobactérias e o gênero Atopobium.2,5

A cessação da amamentação e a transição para uma dieta composta por alimentos sólidos variados causa um aumento na diversidade alfa da microbiota intestinal infantil essencial para sua maturação.6 A idade exata em que uma estrutura de microbiota adulta e estável é formada ainda é incerta, mas geralmente ocorre por volta dos 2,5 a 3 anos de vida.6 Nessa idade, a maioria dos grupos bacterianos já atingiu um estado de estabilidade da microbiota adulta, sendo por isso ressaltada a importância da formação da microbiota nos primeiros 1000 dias de vida.3

Influência do Estresse, Estilo de Vida e Antibióticos

Estresse e estilo de vida (qualidade do sono, exposição a substâncias químicas, estressores físicos e psicológicos, estressores e experiências adversas na infância e tipo de dieta) também podem impactar significativamente a microbiota intestinal. O estresse crônico, tanto em crianças quanto em adultos, está associado a alterações na composição da microbiota, o que pode levar a um aumento de bactérias patogênicas e uma diminuição de bactérias benéficas, impactando no eixo cérebro-intestino-microbiota.7,8 Isso pode resultar em uma maior suscetibilidade a doenças inflamatórias, distúrbios emocionais e transtornos metabólicos.2 O uso indiscriminado de antibióticos também pode impactar negativamente a microbiota, devendo ser evitado sempre que possível.9

Modulação da microbiota por agentes probióticos

O crescente número de estudos demonstrando os benefícios de longo prazo para a saúde proporcionados por uma microbiota intestinal infantil saudável levaram ao desenvolvimento de estratégias para modular a microbiota durante a infância. Uma dessas estratégias é através do uso de probióticos, os quais apresentam propriedades imunomoduladoras e anti-inflamatórias, incluindo melhora na função da barreira mucosa intestinal e inibição da adesão de patógenos potenciais. Existem diversos trabalhos demonstrando benefícios do uso de probióticos na redução do risco de enterocolite necrotizante em recém-nascidos pré-termo, de cólica/dor abdominal em bebês, no desenvolvimento de alergias, na duração de diarreia aguda, etc.2

Até mesmo o uso de probióticos durante a gestação parece ser benéfico. A suplementação de L. rhamnosus para mulheres durante o segundo e terceiro trimestres de gravidez resultou na manutenção de uma microbiota vaginal livre de microrganismos patogênicos e ajudou a manter um pH vaginal baixo.10 Quando fornecido às mulheres durante e após a gravidez, mostrou colonizar os intestinos de seus bebês e foi correlacionado com um aumento na abundância de bifidobactérias no intestino infantil.11

Conclusão

A construção e manutenção de uma flora intestinal saudável desde a infância é crucial para a promoção da saúde geral e prevenção de doenças. Pediatras têm um papel fundamental na orientação dos pais sobre práticas alimentares saudáveis, manejo do estresse e o uso racional de antibióticos. Promover uma microbiota equilibrada pode não apenas melhorar a saúde digestiva, mas também ter impactos positivos no desenvolvimento neurocognitivo e na saúde mental das crianças, além de, potencialmente, reduzir a incidência de doenças na idade adulta.

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Referências bibliográficas

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