Rosuvastatina tem efeito cardioprotetor na quimioterapia por câncer de mama?
O câncer de mama corresponde a 30% dos cânceres da mulher e até 20% tem o receptor HER2 positivo. Nesses casos, o tratamento geralmente consiste em quimioterapia, que inclui um antracíclico, a doxorrubicina, seguida de um anticorpo monoclonal direcionado aos receptores HER2, o trastuzumabe. Essa associada leva a maior incidência de cardiotoxicidade, que, quando associada a doxorrubicina, geralmente não é reversível, é dose dependente e ocorre por alterações estruturais no cardiomiócito e por morte celular em decorrência da formação de espécies reativas de oxigênio (ROS). Já a cardiotoxidade associada ao trastuzumabe costuma ser reversível e independe da dose. Ocorre por bloquerar a transdução de sinal associada a ativação das vias de sobrevivência e por piorar o estresse oxidativo.
O ecocardiograma transtorácico (EcoTT) é o método diagnóstico mais utilizado e feito de forma periódica para detectar alterações na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE).
Existem diversas formas de prevenir a cardiotoxicidade induzida pela quimioterapia, como redução de dose e uso de medicações cardioprotetoras. Uma medicação em estudo são as estatinas, que tem efeito antioxidante e anti-inflamatório, que poderia ajudar a prevenir o dano ao DNA. Assim, foi realizado um estudo que avaliou o possível efeito protetor da rosuvastatina.
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Imagem de freepikMétodos do estudo e população envolvida
Foi estudo prospectivo, randomizado, controlado que incluiu pacientes com câncer de mama e HER2 positivo que receberam doxorrubicina seguido de trastuzumabe. As pacientes tinham entre 25 e 75 anos, programação deste esquema quimioterápico, performance status pela escala de ECOG ≤ 2, FEVE ≥ 50%, hemograma, função renal normais e TGP ≤ 3 vezes o limite superior do normal.
O grupo intervenção foi formado por 25 pacientes que receberam rosuvastatina 20 mg 24 horas antes do primeiro ciclo de quimioterapia e 1x ao dia por 6 meses e o grupo controle por 25 pacientes que não usaram a medicação.
O ecoTT foi realizado em todos os pacientes 24 horas antes da quimioterapia inicial e após 3 e 6 meses. Cardiotoxicidade foi definida como insuficiência cardíaca (IC) sintomática ou queda da FEVE em mais de 10% comparado ao valor basal ou para valores < 50%. Foram coletados exames de troponina I ultra-sensível (TnI), mieloperoxidase (MPO), interleucina-6 (IL-6) e TGP.
O desfecho primário foi a mudança da FEVE após 3 a 6 meses comparado ao basal e a detecção de cardiotoxicidade nos dois grupos. O desfecho secundário foi a mudança nos níveis de TnI, MPO e IL-6 em 3 e 6 meses.
Resultados
Os pacientes tinham características clínicas semelhantes, assim como FEVE e níveis de TnI, MPO, IL-6 e TGP iniciais.
O grupo intervenção teve menor queda da FEVE comparado ao grupo controle (p = 0,036 em 3 meses e p =0,002 em 6 meses). Cardiotoxicidade ocorreu em 16% no grupo controle e em nenhum paciente no grupo intervenção. A TnI e IL-6 foram menores no grupo intervenção em 3 e 6 meses e a MPO foi menor na avaliação de 6 meses.
Os efeitos colaterais relatados foram semelhantes nos dois grupos: náuseas, dor abdominal, mialgia, cefaleia, astenia e tontura.
Comentários e conclusão: Rosuvastatina
Apesar de ser um estudo unicêntrico, de curta duração e com poucos pacientes, houve efeito protetor da rosuvastatina, que tem ação anti-inflamatória e antioxidante, em pacientes com câncer de mama submetidas a quimioterapia com doxorrubicina seguida de trastuzumabe.
O aumento dos biomarcadores como TnI, MPO e IL-6 teve associação com queda da FEVE e pode ser que possam ser utilizados como marcadores mais precoces de cardiotoxicidade.
Esses resultados já têm sido vistos em alguns outros estudos e pode ser que haja mudança das próximas diretrizes, com recomendação desta medicação para esse grupo de pacientes.
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