A migrânea é a cefaleia primária mais comum e observada em prontos-socorros e em consultórios médicos. Ademais, é uma das principais causas de incapacidade em indivíduos abaixo de 50 anos.
No segundo dia da Annual Meeting da American Academy of Neurology 2025 foi promovida uma mesa sobre avanços nas terapias abortiva, preventiva e cognitivo-comportamental para migrânea. Essa mesa foi composta pelas palestrantes Dra Rebecca Burch (University of Vermont), Profa. Dra. Melissa Rayhill (University of Buffalo Jacobs School of Medicine) e Dra Deena Kuruvilla (Wesport Headache Institute).
Avanços em terapia abortiva
O tratamento abortivo em migrânea, anteriormente, contemplava apenas fármacos como analgésicos, AINEs e triptanos. Entre eles, os triptanos são ainda os medicamentos de primeira escolha diante de sua boa eficácia e segurança.
Nessa área, avanços na terapia abortiva ocorreram através de ensaios clínicos randomizados controlados por placebo que mostraram eficácia com a classe de drogas dos gepants (rimegepant, ubrogepant, zavegepant). Em geral, não apresentam diferenças significativas em termos de eficácia e apresentam boa tolerabilidade. Trata-se de classe recomendada para a população que não apresenta boa resposta no controle de crise migranosa com o uso de triptanos ou com contraindicações reais aos triptanos. Contudo, algumas ressalvas devem ser pontuadas: não existem estudos comparativos diretos entre triptanos, AINEs e os gepants aprovados; não há estudos prospectivos do uso de gepants com a população não respondedora aos triptanos; falta de dados sobre eficácia em pacientes com contraindicações reais a triptanos. Ademais, os gepants possuem um custo financeiro bem acima comparado aos triptanos.
Outro avanço são os estudos recentes com os ditans (ex: lasmiditan) com eficácia ao abortar as crises migranosas. Apesar de apresentarem efeitos centrais, lasmiditan não possui propriedades vasoconstritoras, podendo ser alternativa para pacientes com claras contraindicações aos triptanos.
Avanços em terapia preventiva
A indicação de terapia preventiva/profilática é direcionada para os seguintes contextos: interferência significativa em atividades diárias a despeito de tratamento abortivo, risco elevado para cefaleia por abuso de analgésicos, preferência do paciente, frequência de crises migranosas > 1 vez/semana, terapia abortiva inefetiva além de migrâneas raras/incomuns (ex. migrânea hemiplégica). O objetivo dessa terapia é reduzir a incapacidade atrelada à migrânea e reduzir pelo menos em torno de 50% a frequência, duração e intensidade da dor.
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Os avanços em terapia preventiva de migrânea ocorreram através da publicação de ensaios clínicos com os anticorpos monoclonais contra CGRP (fremanezumabe, galcanezumabe, eptinezumabe), anticorpo monoclonal contra o receptor de CGRP (erenumab) e gepants profiláticos (rimegepant e atogepant).
Todos os anticorpos monoclonais contra CGRP e anticorpo monoclonal contra o receptor de CGRP, em ensaios clínciso controlados por placebo, foram mais efeitos em reduzir o número de dias de cefaleias por mês com taxa em torno de 50%. A tolerabilidade e a segurança desses anticorpos monoclonais foram boas.
A droga atogepant é aprovada para profilaxia de migrânea episódica e de migrânea crônica. Já a rimegepant é apenas aprovada para tratamento de migrânea episódica. Ainda assim, essas novas terapias profiláticas apresentam um custo altíssimo, o que dificulta o acesso.
A International Headache Society publicou em 2024 um paper colocando os antagonistas de CGRP como uma opção de primeira-linha³. A palestrante destacou esse posicionamento e fez referência à discussão ocorrida na Plenária de Controvérsias da AAN 2025, realizada no primeiro dia do congresso. Ela comenta que, se o custo financeiro dessa classe de medicamentos não fosse elevado, a proposta de adotá-los ou não como opção de primeira linha provavelmente não seria uma pauta nessa plenária.
Nessa área, ainda há uma limitação de dados como: estudos de duração e/ou de suspensão, troca entre drogas, combinações terapêuticas.
Avanços em terapia cognitivo-comportamental
A terapia cognitivo-comportamental (CBT) é recurso não farmacológico que, recentemente, tem apresentado evidências científicas no tratamento de migrânea. Trata-se de terapia com possíveis diferenças em modalidades, mas estruturas terapêuticas similares (organização das sessões, componentes cognitivos e técnicas de relaxamento) com objetivo em identificar e desafiar sentimentos autodepreciativos e desenvolver pensamentos de enfrentamento.
Ensaios clínicos e revisões sistemáticas e meta-análises foram apresentadas durante a palestra, na qual reforçaram a CBT como intervenção não farmacológica que proporcionou desfechos como redução de frequência de crises, redução da intensidade da dor e redução em escalas de impacto e incapacidade atrelados à migrânea.
Comentários finais
Um tratamento adequado para pacientes com migrânea é essencial para reduzir a frequência e a intensidade das crises, melhorar a qualidade de vida e minimizar o impacto funcional, social e profissional da doença.
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