A segunda plenária do primeiro dia da Annual Meeting da American Academy of Neurology 2025 foi sobre “Hot Topics in Neurology“. É uma sessão que apresenta os avanços mais recentes e inovadores em pesquisa translacional sobre questões clínicas essenciais. A dinâmica ocorre a partir da apresentação de três palestrantes de destaque que resumem suas descobertas recentes e discutem as implicações clínicas dos resultados.
IA e biomarcadores na detecção precoce de doenças
A palestrante Dra Stephanie Miller, da Gladstone Institute for Neurologicals Diseases, abre a plenária apresentando sua pesquisa com inteligência artificial na detecção precoce de doenças neurodegenerativas como doença de Alzheimer (DA).
A premissa do estudo foi de que o comportamento reflete diretamente a função cerebral, portanto, a desconstrução de sequências de comportamento pontual possibilitará fornecer uma medida direta, imparcial e quantificável da função cerebral.
O grupo realizou estudo que consistiu no uso de machine learning chamada VAME (Variational Animal Motion Embedding) para analisar vídeos de camundongos geneticamente modificados para DA. A ferramenta identificou comportamentos sutis e desorganizados nos animais, indicando sinais precoces da doença que poderiam passar despercebidos em análises convencionais.
Uma limitação do estudo é que domínios cognitivos e a topologia funcional do cérebro não foram avaliados de forma explícita. Além disso, o estudo não esclarece se os comprometimentos no comportamento espontâneo são causados diretamente por vias biológicas e mecanismos responsáveis pelo declínio cognitivo. Ainda não está claro se alguns desses desfechos poderiam representar biomarcadores de disfunção cognitiva.
O estudo foi publicado na revista Cell Reports em novembro de 2024¹.
Agonistas e receptor GLP1: uma panaceia ou muito bom para ser verdade?
Já o palestrante Paul Edison exibe suas pesquisas sobre o uso de agonistas do receptor GLP-1 em doenças neurológicas, especialmente na doença de Alzheimer.
A premissa de sua pesquisa surgiu a partir de evidências pré-clínicas em modelos transgênicos da DA, nos quais foi observado um efeito neuroprotetor da liraglutida ao reduzir os oligômeros de beta-amiloide, normalizar a plasticidade sináptica e a captação de glicose cerebral, além de aumentar a proliferação de células progenitoras neuronais.
Nesse contexto, o palestrante apresenta o estudo ELAD, multicêntrico realizado no Reino Unido, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, de fase IIb, que avaliou o uso de liraglutida em 204 participantes com demência por Alzheimer leve a moderada. Como parte do estudo, todos os pacientes realizaram exames de ressonância magnética (RM) cerebral no início e após 12 meses de tratamento com liraglutida ou placebo correspondente, juntamente com avaliação neuropsicológica e PET cerebral com [18F]-FDG.
Ainda que o desfecho primário não tenha sido alcançado (avaliar mudanças na taxa metabólica de glicose cerebral nas regiões corticais após 12 meses de tratamento), alguns benefícios foram encontrados nos desfechos secundários. O grupo intervenção apresentou análise por RM com uma menor velocidade de perda volumétrica do lobo temporal e do volume total da substância cinzenta comparados ao grupo placebo. A análise por VBM (morfometria baseada em voxel) revelou que os participantes tratados com liraglutida apresentaram uma redução mais lenta do volume cortical total da substância cinzenta, bem como dos lobos frontal, temporal e parietal, em comparação com o grupo placebo. Esses achados foram associados a um declínio cognitivo mais lento, na qual o grupo intervenção apresentou redução mais lenta da escala ADAS-Z em comparação ao placebo (p = 0.01).
Diante desses achados, o palestrante finaliza sua apresentação contemplando a possibilidade dessas drogas terem um potencial de prevenção e de tratamento em doenças neurodegenerativas. É também descrito a necessidade de estudos de larga escala para melhor avaliar esses potenciais.
Interface cérebro-computador para restauração de comunicação e mobilidade
Por fim, o palestrante Dr Leigh Hochberg, da Massachusetts General Hospital, apresenta a tecnologia de BCI (interface cérebro-computador) que através de sensores implantáveis, são capazes de traduzir atividade neural em comandos para dispositivos externos. Essa tecnologia visa, por exemplo, que pacientes com incapacidade motora diante de doenças neurológicas possam futuramente andar, assim como pacientes com problemas de linguagem e de fala decorrente de doenças neurológicas (ex. ELA) possam futuramente falar.
Considerando essa tecnologia, o palestrante apresenta principalmente acerca do uso dessa tecnologia na restauração de comunicação. Para tal, o uso de BCI possibilita a implantação de sensores no cérebro na interpretação de sinais neurais associados à tentativa de fala, convertendo-os em texto exibido em uma tela. Algumas publicações já foram realizadas demonstrando efeitos dessa tecnologia na melhora da comunicação em pacientes com esclerose lateral amiotrófica (ELA)3;4.
Comentários finais
A plenária “Hot Topics in Neurology” reforça o compromisso da AAN com a inovação e a excelência científica. É uma oportunidade estratégica para neurologistas se manterem atualizados e alinhados com as principais inovações que estão moldando o futuro da neurologia.
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