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Neurologia19 outubro 2024

CBN 2024: Atualizações em epilepsia - manejo farmacológico

Uma palestra do evento trouxe como destaque a abordagem farmacológica das crises, comentando o que há de tendência no mundo e no Brasil.
Por Jesus Ventura

A epilepsia é uma condição médica relacionada à ocorrência de crises convulsivas, com alto impacto na qualidade de vida do paciente. Seu manejo farmacológico é, por vezes, desafiador, diante dos perfis de pacientes aos quais abordamos e suas comorbidades correlatas.  A escolha de tratamento baseia-se em tipo de crise, população, características do paciente e drogas disponíveis, objetivando-se controle adequado, em monoterapia.

É de fundamental importância na decisão terapêutica definir qual tipo de crise, sendo início focal ou generalizada. Outro ponto fundamental diz respeito a entender a droga escolhida, como mecanismo de ação e potenciais interações farmacológicas, além de efeitos colaterais.

Para crises focais, são exemplos de drogas utilizadas carbamazepina, lamotrigina e levetiracetam. Já para crises generalizadas são exemplos ácido valproico e levetiracetam.

No Congresso Brasileiro de Neurologia (CBN 2024), foram discutidos alguns pontos de atualização sobre a condição.

Qual a tendência mundial na prescrição de fármacos anticrise?

Considerando as drogas mais antigas, como carbamazepina, fenobarbital e fenitoína, sabe-se do grande potencial de interações farmacológicas, como indução enzimática e alteração em metabolismo de outras drogas. Além desses efeitos colaterais, drogas como ácido valproico e topiramato tem sabidamente efeito teratogênico. Sendo assim, há tendência mundial na prescrição de novas drogas, como lamotrigina, levetiracetam e lacosamida. Além disso, há tendência em não prescrever ácido valproico para mulheres em idade fértil.

Como destaque, discutiu-se especificamente sobre a carbamazepina, droga utilizada para tratamento de crises focais. Droga sabidamente com efeito indutor enzimático, seu uso a longo prazo (mais de 10 anos) pode reduzir eficácia de estatinas, aumentando risco cardiovascular. Destacou-se também o fato de indutores enzimáticos aumentarem o risco de osteoporose ao longo dos anos de uso.

Qual a realidade atual do Brasil?

No Brasil as principais medicações anticrise prescritas são fenobarbital, ácido valproico e fenitoína. Seguindo a tendência mundial, há tendência no uso de medicações mais novas, com menor potencial indutor enzimático e de interações farmacológicas.

Leia também: Epilepsia e gravidez: como devemos abordar?

Diante dessa realidade, pensando em populações comórbidas e polifarmácia, pelo potencial de interações farmacológicas, é necessário atentar-se na escolha de monoterapia. Foi sugerido em aula o uso do site epipick.org, onde consegue-se de forma prática preencher características individuais do paciente, detalhes semiológicos da crise, uso de outras medicações, presença de lesão estrutural, dentre outros. Seguindo esse fluxo, aponta-se a droga de escolha sugerida em monoterapia, segunda opção e drogas a serem evitadas, com razoável confiança.

Mensagens práticas

  • Há tendência em uso cada vez mais na escolha de drogas mais novas, diante do potencial de interações farmacológicas e tolerabilidade;
  • Destaca-se o avanço internacional na disponibilidade de fármacos, e o atraso entre aprovações de órgãos regulamentadores em nosso meio (ANVISA), o que limita o acesso do público brasileiro à novas drogas em relação ao mundo;
  • Evitar drogas indutoras enzimáticas (p.e. carbamazepina) em pacientes comórbidos e com polifarmácia;
  • Evitar drogas teratogênicas em mulheres em idade fértil.

Confira todos os destaques do Congresso Brasileiro de Neurologia aqui!

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