Exossomos: quais as evidências de seu uso em cirurgia plástica?
Atualmente há uma tendência em buscar abordagens minimamente invasivas que atuem retardando o envelhecimento, o que favoreceu o desenvolvimento de terapias com propriedades regenerativas como os exossomos. Descrito em 1983 por Johnstone et al., exossomos são vesículas extracelulares formadas por bicamada lipídica, com tamanho entre 40-160 nm, contendo proteínas, ácidos nucleicos e lipídeos. Apresentam função central na comunicação intercelular, regulação de vias de sinalização e resposta imune. Considerando o potencial regenerativo dos exossomos, tem-se buscado elucidar suas possíveis aplicações em áreas como rejuvenescimento cutâneo, tratamento de feridas e restauração capilar. Revisaremos a seguir as mais recentes evidências sobre o tema.
Mecanismo de ação
Embora ainda não plenamente elucidado, sabe-se que o mecanismo de ação depende do subtipo celular que forma o exossomo. Um dos mecanismos mais comuns do subtipo derivado de células tronco de tecido adiposo é por sinalização via TGF-β, que induz fosforilação de complexos intracelulares como SMAD, regulando transcrição gênica responsável pela regulação de matriz extracelular além da proliferação, diferenciação e apoptose celular. Já exossomos derivados da papila dérmica e queratinócitos atuam por meio via Wnt/β-catenina alterando transcrição de fatores nucleares que promovem crescimento capilar.
Rejuvenescimento cutâneo
A pele sofre ação de fatores extrínsecos (radiação UV, tabagismo, glicação) e fatores intrínsecos (genéticos) que promovem modificações estruturais e celulares, como redução da funcionalidade de fibroblastos, queratinócitos e melanócitos, desorganização da MEC e das fibras de colágeno, elastina e proteoglicanos. Tais modificações são observadas clinicamente como perda da elasticidade dérmica e epidérmica, rugas, discromias e ressecamento cutâneo, característicos do processo de envelhecimento. As principais vias envolvidas nesse processo incluem estresse oxidativo, inflamação e alterações genéticas. Exossomos têm mostrado potencial de atuar atenuando processo inflamatório e estresse oxidativo local. Estudos pré-clínicos de fotoenvelhecimento demonstraram redução de TNF-α e estímulo de TGF-β e TIMP, responsáveis por reduzir senescência de fibroblastos e estimular colágeno tipo I, elastina e fibronectina. Estudos de Chernoff e Ducan associaram exossomo tópico ao microagulhamento e laser facial, respectivamente, observando sinergismo na melhora da qualidade, textura e uniformidade da pele. Já em trial realizado por Cho et al observou que exossomos derivados de células tronco adiposas reduzem produção de melanina cutânea, podendo ser utilizado também no tratamento de hipercromias.
Cicatrização de feridas
Alterações no processo de cicatrização podem resultar em cicatrizes atróficas, alargadas, hipertróficas ou em queloides. Estudos têm demonstrado potencial ação de exossomos em todas as fases desse processo, reduzindo formação de cicatrizes inestéticas e otimizando os mecanismos de regeneração tecidual. Na fase inflamatória, sua ação principal é por meio da redução da resposta inflamatória e prevenção de danos secundários a esse processo. Na fase proliferativa agem otimizando migração de fibroblastos, deposição de colágeno tipo III e angiogênese. Na fase de remodelação reduzem cross-linking e aumentam transformação para colágeno tipo I, além de inibir diferenciação de miofibroblastos. Associação de exossomos em curativos com agentes como hidrogel e ácido hialurônico tem demonstrado efeito sinérgico na cicatrização de feridas. Kwon et al. (2020) em trial clínico observaram que a combinação de exossomos derivados de tecido adiposo com laser de CO2 fracionado otimiza o tratamento de cicatrizes faciais.
Restauração capilar
O ciclo capilar é dividido em três fases: anágena ou de crescimento ativo, catágena ou de transição ou involução e telógena ou de repouso. As células da papila dérmica (CPD) estão entre as principais reguladoras do ciclo folicular e exossomos derivados dessas células têm mostrado potencial de prolongar a fase anágena, além de modular a via Wnt/β-catenina, otimizando o crescimento capilar. Por sua função de estimular o crescimento e viabilidade das CPD, exossomos têm se mostrado potencialmente mais efetivos que outros tratamentos que agem primariamente por efeito pró-angiogênico, como minoxidil. Alguns ensaios clínicos já realizados, como o de Huh e Kwon, demonstraram que o tratamento capilar com exossomos por 12 semanas promoveu aumento da densidade e espessura capilar, sem efeitos adversos reportados.
Limitações
Embora promissor, a aplicação clínica dos exossomos ainda é restrita. Uma das principais limitações para a expansão de seu uso é a heterogeneidade de métodos de aquisição, purificação, reconstituição e fontes celulares. Assim, a maioria dos estudos clínicos é restrito a pequenas populações, o que limita conclusões embasadas sobre seu perfil de segurança, efeitos adversos e resultados a longo prazo.
Mensagem prática
Terapias regenerativas como os exossomos têm recebido atenção crescente na cirurgia plástica, demonstrando efeitos benéficos no rejuvenescimento cutâneo, tratamento de feridas e restauração capilar. Todavia, sua aplicação no Brasil é aprovada apenas para uso tópico e estudos clínicos que ratifiquem seu perfil de segurança ainda são escassos. Embora as perspectivas sejam otimistas, ainda há uma longa jornada para sua ampla inclusão como ferramenta terapêutica na cirurgia plástica.
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