Suplementação oral pré-operatória em pacientes com câncer gastrointestinal
Salvo raras exceções, pacientes portadores de câncer gastrointestinal terão algum grau de déficit nutricional. A baixa ingestão alimentar acontece por vários motivos, seja por limitação mecânica, como em tumores de esôfago, obstrução em tumores gástricos, anorexia, disfunções absortivas. Além disso, o catabolismo aumentado dos tumores também contribui para o déficit nutricional.
Vários estudos têm mostrado complicações potencializadas pela desnutrição tumoral, como maior índice de infecção de sítio cirúrgico, complicações respiratórias, deiscências, cicatrização inadequada, maior permanência hospitalar e prejuízos na qualidade de vida dos pacientes.
Planejar um suporte nutricional adequado é, portanto, fundamental para esses pacientes. Zou et.al. publicaram em 2024 uma meta-análise com resultados comparativos da suplementação oral pré-operatória em pacientes portadores de câncer gastrointestinal demonstrando a importância dessa ferramenta.
Metodologia
O estudo chinês conduzido por Zou et. al. se baseou em 12 artigos envolvendo 1.201 pacientes agrupados em dois grupos: pacientes submetidos à suplementação via oral, composto por 600 pacientes e outro grupo com dieta habitual, formado por 601 pacientes. Os artigos do estudo foram extraídos das plataformas PubMed, EMbase, Web of Science, The Cochrane Library, Scopus, and the Chinese National Knowledge Infrastructure.
Discussão
A intervenção alimentar por meio de suplementação via oral está associada a melhores desfechos pós-operatórios como redução de infecções, melhora do sistema imunológico e regulação favorável da resposta inflamatória.
Em cinco estudos envolvendo 471 pacientes, a taxa de complicações infecciosas foi de 21,5% (51/237) no grupo de suplementação via oral contra 27,8% (65/234) no grupo sem suplementação, mostrando o benefício da suplementação via oral na redução das taxas de infecção nesses pacientes. Entretanto, não houve diferenças significativas em relação a complicações não infecciosas nos dois grupos.
A elevação de albumina foi avaliada em quatro estudos com 522 participantes e identificado que pacientes submetidos a suplementação via oral de fato tiveram os níveis dessa proteína elevados. 488 participantes em outros quatro estudos também apresentaram níveis de pré-albumana maiores em relação ao grupo sem suplementação.
A meta-análise também descobriu que a suplementação via oral nos grupos de estudo reduziu os níveis de indicadores inflamatórios como global de leucócitos e proteína-C reativa (PCR) e melhorou os níveis de indicadores imunológicos como IgG, CD4+ e CD8+.
Considerações
A suplementação nutricional é extremamente importante e muito bem estabelecida no pré-operatório de pacientes portadores de câncer gastrointestinal. Importante destacar o papel da imunonutrição, que vem se estabelecendo nas cirurgias gastrointestinais de grande porte, contribuindo para melhora na cicatrização, melhora do sistema imunológico e modulando a resposta inflamatória.
A meta-análise conduzida por Zou et. al. avaliou somente suplementação oral, mas é importante destacar que, em grande parte dos casos, os pacientes portadores de câncer gastrointestinal, principalmente gastrointestinal alto (esôfago e estômago) têm a via oral bem comprometida e a ingestão oral não é suficiente para o aporte nutricional adequado. Portanto, nesses pacientes, deve-se avaliar a complementação nutricional por sondas, como a nasoentérica ou mesmo vias alimentares cirúrgicas (gastrostomia, jejunostomia) para promover a terapia nutricional adequada.
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