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Neurologia26 setembro 2024

Angioplastia com balão vs. tratamento clínico para estenose arterial intracraniana

Estudo buscou responder se a angioplastia com balão associada ao tratamento médico agressivo é superior ao tratamento clínico agressivo isolado
Por Jesus Ventura

A estenose intracraniana sintomática é uma causa relevante para ocorrência de eventos cerebrovasculares isquêmicos (ataque isquêmico transitório, acidente vascular cerebral isquêmico). É definida como oclusão de 70-99% de vaso arterial principal responsável pelo evento. O tratamento atualmente é realizado com tratamento antiplaquetário agressivo (associação de dois antiagregantes, por 90 dias) associado ao controle de fatores de risco. Estudos anteriores não demonstraram superioridade do tratamento endovascular com Stent, além dos riscos envolvidos, sendo seu uso não recomendado na prática. Nesse intuito, o ensaio clínico BASIS foi desenvolvido para estudar a angioplastia com balão sem colocação de stent em pacientes com estenose intracraniana sintomática, verificando se há superioridade nessa terapia combinada a antiagregação agressiva em comparação com antiagregação agressiva isolada. 

Angioplastia com balão vs. tratamento clínico para estenose arterial intracraniana

Métodos e resultados 

O estudo BASIS foi um ensaio clínico randomizado, aberto, conduzido na população chinesa. O objetivo do estudo foi comparar o uso de angioplastia com balão submáximo associado a terapia farmacológica agressiva em relação a terapia farmacológica agressiva isolada, nos pacientes com estenose intracraniana sintomática grave. Foram incluídos 252 pacientes no grupo de manejo farmacológico agressivo e 249 pacientes submetidos a angioplastia com balão submáximo associado a terapia farmacológica agressiva.  

O desfecho primário incluiu qualquer evento isquêmico cerebral ou morte dentro de 30 dias da inscrição no estudo ou da angioplastia, ou qualquer evento isquêmico relacionado a artéria culpada ou revascularização da artéria culpada, de 30 dias a 01 ano da inscrição no estudo.  

Cabe ressaltar que angioplastia submáxima com balão, utilizada no estudo, foi feita com diâmetro de insuflação do balão entre 50-70% do diâmetro da artéria proximal qualificada do evento, sem uso de stent. Eventos adversos relacionados ao procedimento incluem vasoespasmo, dissecção arterial, hemorragia, trombose, perfuração e oclusão arterial.  

Em relação aos resultados do estudo, foi evidenciado que pacientes submetidos a angioplastia com balão combinada a terapia farmacológica agressiva tiveram menor chance de recorrência de eventos isquêmicos, além de menor ocorrência de mortes (4,4% vs 13,5%; HR, 0,32 [IC 95%, 0,16-0,63]; P < 0,001). Porém a taxa de complicação relacionada a angioplastia com balão foi de 17,4%, o que não deve ser ignorado na indicação de tal procedimento. 

Considerações práticas

  • Cabe ressaltar que esse estudo foi realizado na China, um país onde a taxa de estenoses intracranianas como causa de AVC é considerável; 
  • Apesar da evidência de superioridade da angioplastia associada a tratamento farmacológico nessa população, extrapolar conclusões para outras etnias ainda carece de melhores evidências (são necessários estudos multicêntricos internacionais); 
  • Os riscos relacionados ao procedimento não devem ser ignorados, com taxas de complicação nesse estudo de até 17,4%; 
  • Diante desses dados, a angioplastia com balão submáximo pode ser uma terapia promissora para pacientes com estenoses intracranianas graves. Porém, ainda é cedo para dizer se esse estudo mudará a prática na nossa realidade no Brasil. São necessários mais estudos de coorte, internacionais, para melhor qualidade das evidências.  
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Referências bibliográficas

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